Desafios Contextuais E Gerais Na Missão Do Século 21

Rodolfo “Rudy“ Girón

Apresentação

por Paulo Feniman

O movimento missionário brasileiro, especialmente por meio da AMTB, exerceu um papel fundamental no inicio do COMIBAM. Neste ano, o COMIBAM completou 30 anos, e a AMTB, 35 anos, e ambos os movimentos têm feito reflexões sérias sobre a necessidade de olhar para o passado para que possamos aprender a como lidar com o futuro. Embora por algum tempo os dois movimentos tivessem se distanciado, nos últimos anos ambos têm trabalhado em conjunto para o avanço missionário a partir de toda a América Latina. As considerações feitas por Rudy Girón neste artigo refletem também a nossa realidade e o nosso desafio como movimento missionário. Partilhamos deste mesmo sentimento e do desejo de amadurecer e ver nosso movimento missionário, por meio das nossas igrejas, avançando até os confins da terra.

Paulo Feniman, Presidente da AMTB

Quero começar com uma palavra de testemunho. Quando ainda era um jovem pastor pentecostal desconhecido e um novato no tema de missões, recebi a oportunidade de pregar a plenária sobre o Espírito Santo e as Missões no primeiro congresso COMIBAM 87. Isso mudaria minha vida radicalmente e me converti num apaixonado por missões servindo ao corpo de Cristo na América Latina […] E aqui estou eu, trinta anos depois, com a honra de compartilhar minha paixão por esse amado movimento COMIBAM, bem como minha visão para o futuro dele.

Aprendamos do passado para focar no presente e abraçar o futuro

Hoje celebramos o 30º aniversário do Primeiro Congresso Missionário COMIBAM 87, se bem que o Comibam como movimento teve seu início em dezembro de 1984 na reunião que a CONELA (Confraria Evangélica Latino-americana) realizou na Cidade do México, na qual Luis Bush foi eleito seu primeiro Presidente. Três anos depois de um grande processo de preparação, foi realizado em São Paulo (Brasil), em novembro de 1987, o primeiro Congresso Missionário Ibero-americano COMIBAM 87. Foi um momento apoteótico, um momento profético, um momento de mudança de paradigma que é resumido na frase de Luis Bush:

Em 1917 a América Latina foi declarada um campo missionário.

Em 1987 a América Latina se declara uma força missionária.

Era o fim de uma era marcada por uma mentalidade de dependência e receptora de missionários, para se tornar uma era na qual a Igreja Ibero-americana, em fé e com uma nova mentalidade, declarava-se enviadora.  Pela primeira vez num nível ibero-americano nos reuníamos para tomarmos consciência, como região, da responsabilidade de participarmos nas missões transculturais.

O COMIBAM nasceu com a clara convicção de que não era um evento (congresso), mas um processo e, literalmente, nasceu um movimento que foi realmente um kairos de Deus que marcou um antes e um depois no programa de Deus para a América Latina. Ele não tinha uma missiologia definida em termos acadêmicos, mas tínhamos, nas palavras de Julio Guarneri, uma “missiologia do caminho” (Guarneri, 2013, p. 209).

Três anos depois do congresso COMIBAM 87, em janeiro de 1990, Luis Bush e vários dos principais líderes que formavam o comitê executivo do COMIBAM renunciaram para se dedicarem a outros ministérios e iniciou-se uma nova etapa de desafio para o movimento. Foi uma honra ter sido eleito Presidente do COMIBAM, algo totalmente surpreendente para mim. Essa etapa iniciada com nova liderança, agora latina, sem grande experiência e recursos, e que era nas palavras de Bill Taylor: “uma nuvem visível mas não tangível” iria transformar-se num movimento tangível, vigoroso e reconhecido num nível mundial.

Foi uma época de muito aprendizado mas, ao mesmo tempo, de muita paixão e dedicação. Muitos elementos importantes da identidade do movimento seriam forjados nessa etapa. Os temores, os complexos de inferioridade e incapacidade mudariam pela certeza de que éramos protagonistas e não observadores na missão. A temática era revolucionária: a mudança de mentalidade, a recusa do complexo de gafanhoto, o pastor como achave das missões e a centralidade da igreja no envio de missionários eram, entre outras questões, de grande importância. A capacitação missionária, Adote um povo* e alianças estratégicas foram fundamentais para definir a base conceitual do movimento.

Eu poderia mencionar muitos nomes, mas quero apenas reconhecer três pessoas que para mim foram essenciais para o desenvolvimento dessa etapa: primeiramente,  Federico Bertuzzi, que junto com Edison Queiroz (já com o Senhor) amigos de alma e incansáveis companheiros de caminho, com os quais, juntos viajamos pelo continente compartilhando paixão e visão. Em terceiro lugar, Tim Halls, que foi fundamental para a formação de uma estrutura administrativa do movimento que estava nascendo.

Nesse contexto de verdadeiro crescimento e desenvolvimento, o segundo congresso missionário ibero-americano, COMIBAM 97, foi realizado na cidade de Acapulco, no México, em outubro de 1997. Nesse congresso, o enfoque foi na avaliação e na formação. O tema do cuidado integral começou a ser enfatizado e foram ouvidos os primeiros testemunhos do que Deus estava fazendo por meio dos novos missionários ibero-americanos. Antes do congresso, foram realizadas consultas para avaliação na maioria dos países do continente, e também houve uma produção significativa de literatura que serviu ao longo dos anos formativos do movimento como livros-textos e a base missiológica do mesmo.

Pessoalmente, esse congresso marcou o fim do meu trabalho como mobilizador que durante doze anos e meio eu havia realizado na América Latina,  para passar para a experiência missionária de campo servindo como educador na ex-União Soviética, especificamente em Moscou, Russia, onde com minha esposa, Alma, servi por uma década, tendo fundado o Seminário Teológico da Eurásia.

Vale a pena ressaltar aqui que a transição de liderança que ocorreu nesse congresso foi intencionalmente planejada a partir de 1995, quando David Ruiz foi convidado para ser o novo diretor-executivo. Nesse processo, meu papel no COMIBAM 97 como Presidente foi meramente protocolar. Um ano antes, David havia começado a liderar o desenvolvimento e a implementação do evento, certamente apoiado por este servidor e pela junta diretiva.

No final do congresso, Bertil Ekstrom foi eleito como o terceiro Presidente do COMIBAM, sendo na realidade um cargo de transição, porque três anos depois, na primeira assembleia geral do Comibam, já sob uma estrutura administrativa mais definida, David Ruiz foi nomeado como o quarto Presidente e Jesus Londoño como o diretor-executivo. Novos temas, estratégias e mudanças foram incorporados para dar ao movimento uma estrutura mais de acordo com o crescimento do mesmo, e o papel de protagonista dos movimentos missionários nacionais foi definido, tendo lhe sido dado grande relevância. Não posso falar com mais detalhes sobre essa etapa porque nesse tempo eu estava servindo na ex-União Soviética.

O final dessa etapa e a liderança produtiva de David Ruiz foram concluídos com a realização do terceiro congresso COMIBAM 2006, em novembro desse ano, na cidade de Granada (Espanha). Tive o privilégio de participar do congresso e me regozijei especialmente com o enfoque que foi dado aos missionários de campo. O trabalho deles foi avaliado a partir de três perspectivas: a dos receptores, a dos enviadores e a do próprio missionário. Estiveram presentes mais de duzentos missionários de campo. Isso deu à igreja a oportunidade de dialogar com eles. Samuel Escobar, num artigo escrito para a Protestante Digital em novembro de 2006, fez uma descrição e avaliação que resume bem o que aconteceu em Granada:

O congresso teve uma marca latino-americana definida tanto na sua liderança, nos oradores, coordenadores de grupos de trabalho e missionários que compartilharam seu trabalho, quanto na música e no ambiente em geral. A maturidade expressada na disposição à autocrítica e ao realismo prometem a continuidade e o crescimento em profundidade de um movimento, símbolo do nosso tempo, no qual o vigor da profissão e da militância cristãs se moveu em direção ao hemisfério sul. (Escobar, 2006).

Durante o congresso, Charles Scott foi nomeado o quinto Presidente do Comibam e foram iniciadas novas perspectivas para o movimento, que então se transformou completamente numa estrutura governada por uma junta diretiva e um comitê executivo, que tinha o desafio de levar adiante o programa de Deus para a América Latina. Decio de Carvalho foi nomeado diretor-executivo para liderar a parte executiva do movimento.

Por uma questão estatutária, uma nova característica do Comibam, o cargo de Presidente limita-se a três ou quatro anos.  Baseado nisso, Victor Ibagón foi eleito como o sexto Presidente, seguido mais tarde por José Luis Ramírez, que chegaria a ser o sétimo Presidente. Atualmente temos a alegria de ter um jovem colombiano, David Cárdenas, como o oitavo e atual Presidente.

É óbvio que o DNA do Comibam tem sido sua capacidade de renovação contínua da sua liderança. O fato de que cada líder tenha construído sobre os alicerces que foram estabelecidos pela liderança anterior é um sinal da solidez do movimento.

Neste ponto, a pergunta é: onde estamos agora? Nossa história de 33 anos de movimento e de trinta anos da celebração de três congressos deve nos ensinar algo. É claro que crescemos em número de missionários. Vemos no quadro que apresento abaixo que, de 1.350 missionários no COMIBAM 87 passamos para 4.320 no COMIBAM 97 e para 10.670 no COMIBAM 2006. Baseados nos dados reais de Larry Keys e Ted Limpic apresentados nos congressos anteriores, Larry Kraft preparou para este congresso uma projeção que estima que este ano possa haver 26.500 missionários. Temos de dar glória a Deus pelo modo como ele moveu sua igreja para missões; no entanto, o desafio é crescer no mesmo ritmo qualitativamente. Continuamos tendo grandes desafios em termos de capacitação, cuidado integral, educação contínua e, sobretudo, na busca de novos modelos e alternativas de fazer missões.

Projeção do Número de Missionários Ibero-americanos

Com todo o respeito e admiração devidos ao trabalho do Comibam, considero que a mudança de ser um movimento para se tornar uma estrutura mais definida, algo necessário, traz consigo o risco que toda estrutura ou instituição corre, o de concentrar-se nas agendas administrativas e operativas da estrutura e deixar de caminhar com as pessoas. Curiosamente, observamos que o movimento ultrapassou os limites da estrutura atual, pois há muitas expressões do trabalho missionário da América Latina que não fazem parte das redes de influência do Comibam; no entanto, fazem parte do movimento e temos o desafio de incluí-las.

Cabe aqui nos perguntar: qual é o futuro? Para onde estamos indo como movimento? Qual deve ser a maneira de continuar? Sabemos que estamos novamente diante de um grande desafio, pois tanto o contexto da missão quanto o panorama mundial das missões mudaram.

Mantenho a tese de que, como movimento, o Comibam soube renovar-se, especialmente porque teve a mobilidade da liderança necessária para manter sua vitalidade e adaptar-se ao que percebe como seu contexto. No entanto, é necessário um novo aggiornamento ouatualização que responda às realidades do contexto presente.

Nesse caso, é importante perguntar-nos se devemos continuar pensando e planejando missões, bem como enviando e sustentando missionários de acordo com os modelos tradicionais, ou nos perguntarmos quais tipos ou modelos missionários este século requer? Que missiologia deve estar por trás da nossa ação missionária?

Uma breve revisão do contexto atual nos ajudará a refletir sobre o tema.

B. O novo contexto de missão no século 21

  1. Imediatamente depois do COMIBAM 87, o cenário mundial mudou, a guerra fria chegou ao fim, e houve o colapso da antiga União Soviética. Nas palavras de Huntington, no seu livro El choque de las civilizaciones (O choque das civilizações), as guerras já não seriam mais de caráter ideológicos, mas culturais e de civilização. (Huntington, 1996, seções 268-274).
  2. Entre o COMIBAM 97 e o COMIBAM 2006 vários acontecimentos transcendentais tiveram lugar e houve uma verdadeira mudança de paradigma:

a. O 11 de setembro de 2001 e os ataques terroristas às torres gêmeas de Nova York e ao Pentágono norte-americano, marcaram um novo tipo de terrorismo mundial.

b. Os Estados Unidos lançaram duas novas guerras cujos efeitos vemos ainda hoje: a guerra do Afeganistão e a do Iraque, as quais, de algum modo, são para o mundo islâmico uma reminiscência das Cruzadas cristãs da Idade Média.

3. Imediatamente depois do COMIBAM 2006, vários acontecimentos relevantes tiveram lugar:

a. Em janeiro de 2011, com a imolação de um tunisiano, teve início a Primavera Árabe, que alcançaria nove países árabes.

b. Como consequência dela e da guerra do Iraque, surgiu o chamado ISIS, o estado islâmico, uma das forças terroristas mais sofisticadas e sanguinárias que representam a máxima expressão do Islã militante. Acima de tudo, o ISIS tem uma capacidade assombrosa de recrutar jovens que são sistematicamente radicalizados por meio das redes sociais.

c. A globalização, a pós-modernidade e a secularização se acentuaram. Surgiu a nova ciência da engenharia social, que visa transformar sociedades inteiras pela formação e educação das crianças e dos jovens.

d. Uma tendência acelerada para o pós-cristianismo, especialmente na Europa e crescente na América.

e. O desenvolvimento da tecnologia e da informática.

f. O desenvolvimento de uma nova moral pós-moderna que desafia todos os nossos princípios judeu-cristãos.

g. O crescimento da pobreza e da marginalidade forçadas pela migração de grandes massas de pessoas empurradas pelas guerras e pelos conflitos bélicos regionais.

h. O tráfico humano e os novos tipos de escravidão de mulheres e crianças.

i. A urbanização como o fenômeno que tipifica o século 21, criando uma confluência de crenças religiosas diversas que coexistem no mesmo espaço físico, social e cultural.

O resultado óbvio disso tudo é que nossa missiologia e nossa ação missionária não podem continuar sendo as mesmas. Precisamos responder proativamente ao contexto em que vivemos. É relevante aqui mencionar o pensamento de Erick Hoffer:

Em tempos de mudança, aqueles que estão abertos a aprender se apoderarão do futuro, enquanto aqueles que acreditam saber tudo estarão bem equipados para o mundo que não existe mais.

Quero propor aqui algumas sugestões práticas que me parecem relevantes ao contexto em que vivemos:

  1. Precisamos produzir novos currículos educativos de formação para a infância e a juventude, incorporando as novas tecnologias.
  2. Precisamos mudar nossa mentalidade em relação à dicotomia entre o sagrado e o secular.
  3. Precisamos de uma abordagem não tanto na transculturalidade, mas na interculturalidade.
  4. Precisamos de um compromisso dos enviados quanto a se prepararem profissionalmente para enfrentar as exigências da missão no século 21.
  5. Precisamos prover espaços e abertura para o crescente número de profissionais chamados para missões.
  6. Precisamos incentivar novas maneiras de fazer missões no estilo de Daniel (Beltessazar), Hananias (Sadraque), Misael (Mesaque) e Azarias (Abede-Nego).
  7. Precisamos abrir espaços para as novas gerações, discipulá-las, capacitá-las, mentoreá-las e, sobretudo, empoderá-las para que, por nossas mãos, possam ser a geração que impactará o século 21.

Para mim, esse último ponto é fundamental para o futuro do movimento missionário ibero-americano e, portanto, do Comibam. A pergunta é: como podemos fazer essa transição? Como podemos empoderar as novas gerações para que realizem seu trabalho na missão de Deus?

O chamado para trabalhar intergeracionalmente: Moisés prepara as novas gerações

Para responder a essas perguntas, gostaria que examinássemos brevemente um modelo bíblico que me parece fundamental para entender o que precisa ser feito. A vida e a liderança de Moisés são o melhor modelo que demonstra a capacidade de Moisés como líder para assegurar que a missão de Deus seria cumprida depois de sua liderança.

  1. A liderança de transição deve ser preparada de modo adequado, intencional e metódico para que não haja um vazio de liderança no desenvolvimento do movimento (Êxodo 17. 8-14):

8 Sucedeu que os amalequitas vieram atacar os israelitas em Refidim.9 Então Moisés disse a Josué: ”Escolha alguns  dos nossos homens e lute contra os amalequitas. Amanhã tomarei posição no alto da colina, com a vara de Deus em minhas mãos”. 10 Josué foi então lutar contra os amalequitas, conforme Moisés tinha ordenado. Moisés, Arão e Hur, porém, subiram ao alto da colina. 11 Enquanto Moisés mantinha as mãos erguidas, os israelitas venciam; quando, porém, as abaixava, os amalequitas venciam. 12 Quando as mãos de Moisés já estavam cansadas, eles pegaram uma pedra e a colocaram debaixo dele, para que nela se assentasse. Arão e Hur mantiveram erguidas as mãos de Moisés, um de cada lado de modo que as mãos permaneceram firmes até o pôr do sol. 13  E Josué derrotou o exército amalequita ao fio da espada. 14 Depois o Senhor disse a Moisés: “Escreva isto num rolo, como memorial, e declare a Josué que farei que os amalequitas sejam esquecidos para sempre debaixo do céu”.

A liderança deve preparar intencionalmente a próxima geração de líderes. De Êxodo 17 a Deuteronômio 34, Moisés prepara cuidadosamente o seu sucessor para garantir que Israel tenha uma liderança adequada para a conquista da Terra Prometida.

É interessante observar que, embora Moisés tivesse tudo de que poderia precisar para conquistar a Terra Prometida, era necessário que ele preparasse um líder que fosse tão forte quanto ele fora quando começou sua missão e que pudesse entrar para conquistar a Terra Prometida.

Certamente Deus respalda Moisés na sua tarefa de formar, discipular e mentorear Josué. Em Deuteronômio 3.28 lhe diz: “[…] dê ordens a Josué, fortaleça-o e encoraje-o, porque será ele que atravessará à frente deste povo, e lhes repartirá por herança a terra que você apenas verá”. Três elementos: instruir (ensinamento), animar (apoio e oportunidade, v. 22) e fortalecer (empoderá-lo, dar-lhe, autoridade, ampará-lo, cuidá-lo, guiá-lo). Que maneira de preparar uma nova liderança!

  1. Empoderando o novo líder

Sem dúvida, empoderar a liderança é o mais difícil no processo de formar a liderança. Moisés nos dá uma lição de como se faz isso e, certamente, segue as instruções que Deus lhe dá. Em Números 27.16-21, quando Deus fez com que ele soubesse que não entraria na Terra Prometida porque havia se rebelado contra a palavra de Jeová, a preocupação de Moisés não era que ele deixaria de ser o líder ou que não entraria na Terra Prometida. A preocupação dele era quem seria o líder na etapa seguinte:

16 “Que o Senhor, o Deus que a todos dá vida, designe um homem como líder desta comunidade. 17 para conduzi-los em suas batalhas, para que a comunidade do Senhor não seja como ovelhas sem pastor”. 18 Então o Senhor disse a Moisés: Chame Josué, filho de Num, homem em quem está o Espírito, e imponha as mãos sobre ele. 19 Faça-o apresentar-se ao sacerdote Eleazar e a toda a comunidade e o comissione na presença deles. 20 Dê-lhe parte da sua autoridade para que toda a comunidade de Israel lhe obedeça. 21 Ele deverá apresentar-se ao sacerdote Eleazar, que lhe dará diretrizes ao consultar o Urim perante o Senhor. Josué e toda a comunidade dos israelitas seguirão suas instruções quando saírem para a batalha”.

Três coisas são notáveis aqui:

a) Moisés pede a Deus uma liderança de continuidade.

b) Moisés devia passar sua dignidade a Josué mediante a imposição das mãos.

c) Deus lhe diz: “Dê-lhe o cargo”, dê-lhe poder, libere-o, confie nele, não o limite. Isso era um risco, mas valia a pena. Que bom quando um líder se arrisca por nós e nos dá a oportunidade!No versículo 21 ordena uma transmissão de comando. A partir daquele momento, Josué começou a liderar o povo de Israel.

Uma transição de liderança planejada e concebida cuidadosamente por Deus e pelo líder que o representa é algo natural, sem violência nem politicagem (Deuteronômio 31. 7-8; 34.7-9

7 Moisés tinha cento e vinte anos de idade quando morreu; todavia, nem os seus olhos nem o seu vigor tinham enfraquecido. 8 Os israelitas choraram Moisés nas campinas de Moabe durante trinta dias, até passar o período de pranto e luto. 9 Ora, Josué, filho de Num, estava cheio do Espírito de sabedoria, porque Moisés tinha imposto as suas mãos sobre ele. De modo que os israelitas lhe obedeceram e fizeram o que o Senhor tinha ordenado a Moisés.

Há muitos elementos importantes nessa passagem:

a) Moisés morre aos 120 anos de idade (Dt 34.7) e as pessoas prestam-lhe homenagem e choram por ele. Sua ausência é naturalmente lamentada, mas não é fatal, é uma transição natural e normal. Não há um vazio de liderança para o povo de Deus já que Moisés havia preparado o seu sucessor.

b) De modo natural, sem nenhuma violência e sem crise, o novo líder toma posse num processo que foi divinamente inspirado e humanamente planejado para que acontecesse desse modo. No primeiro capítulo do livro de Josué, encontramos uma imagem de como Deus, sem lamentar, instrui Josué pelo caminho em que ele deveria andar. Josué foi citado por Deus desde que Moisés lhe deu a oportunidade de liderar o povo na guerra contra Amaleque (Êxodo 17. 9).

c) O texto fala das características de Josué: ele estava cheio do Espírito de sabedoria, já que Moisés havia posto suas mãos sobre ele. A consequência disso foi que os filhos de Israel obedeceram a ele sem nenhum problema.

Conclusão: o principal desafio do Comibam é empoderar a nova geração de líderes, a chamada Geração X, a quem chamamos neste congresso de a Geração de Transição, para que possam levar adiante no século 21 a próxima fase do Comibam, e eles, por sua vez, devem preparar os Milênios e a Geração Z que certamente serão os protagonistas da missão de Deus e dos enviados para realizar a obra apostólica de levar a luz do evangelho até os confins da terra.

O Comibam precisa perguntar-se seriamente se sua estruturação o está impedindo de servir ao movimento que, pela graça de Deus, criou na América Latina, o que requererá despojar-se totalmente de qualquer interesse estruturado e pensar principalmente na saúde e na vitalidade de um movimento que custou muito trabalho, investimento de vidas e que, certamente, sempre contou com a bênção do Senhor.

Isso irá requerer das novas gerações uma paixão renovada e um compromisso com a missão de Deus. Elas terão que estar dispostas a pagar o alto preço que significa preparar-se adequadamente para poder responder como Abraão, Moisés, Isaías e Paulo: Eis me aqui, Senhor, usa-me!

REFERÊNCIAS:

As citações bíblicas do original foram tiradas da versão Reina Valera, 1960.

Em Português foram tiradas da Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional, 7ª.  ed.

Guarneri, Julio (2017). “COMIBAM 1984-2000: Historical  Analysis of a Majority World Missionary Network” [COMIBAM 1984-2000: análisis histórico de una red misionera del Sur ]. Portland, OR: EMS Press

Huntington, Samuel P. The Clash of Civilizations and the Remaking of World O (Kindle Locations 268-274). Simon & Schuster. Kindle Edition.

Hoffer, Eick (Sem data)

http://www.frasesypensamientos.com.ar/autor/eric-hoffer_2.html

Escobar, Samuel (26 de novembro de 2006). COMIBAM em Granada no Congreso Misionero Iberoamericano, em Granada. Tomado de: http://protestantedigital.com/magacin/8475/COMIBAM_en_Granada.

NOTA:

O autor apresentou este discurso numa sessão plenária noturna do IV Congresso Missionário Ibero-americano COMIBAM 2017, realizado em Bogotá (Colômbia) de 22 a 25 de agosto de 2017, patrocinado pela Cooperação Missionária Ibero-americana (COMIBAM International), sob o lema: “Com Jesus em missão”. O autor é guatemalteco e também cidadão dos EUA e da Espanha.

Rodolfo (Rudy) Girón foi Presidente do Comibam e, como missionário, morou em Moscou, Rússia, onde fundou o Seminário Teológico da Eurásia. Atualmente reside em Málaga, de onde serve como diretor-executivo do Instituto ibero-americano de Estudos Transculturais (IIbET) e do Projeto Visão 2020.

Pode-se entrar em contato com o autor pelo e-mail: rjgiron@gmail.com ou em info@iibet.org.

Consulte as páginas www.iibet.org & www.pvision2020.org

Por Facebook: proyectovision2020 ou pode escrever diretamente para Apartado Postal 29014 Málaga, España.

Aggiornamento (atualização): Faz referência à orientação-chave dada como objetivo para o Concílio Vaticano II, convocado pelo papa João XXIII, em 1962.  Ver https:pt.wikipedia.org.wiki/Aggiornamento (N.R.)

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