Fora do Brasil, entre muçulmanos

Em entrevista, Katsue Takeda desafia o jovem cristão: “Considere estudar fora do País, em um lugar em que você possa ser uma testemunha estratégica de Jesus”

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“Decidi dar uma pausa em minha carreira, que ia muito bem, e rodar o mundo por um ano. Estar em uma comunidade na qual não havia nenhum seguidor de Jesus mexeu comigo.”

A jovem Katsue Takeda, 36, leva a missão de Deus para a sua igreja a sério. Casada há 4 anos com o engenheiro e pastor Fabio Takeda e membro da Igreja Metodista Livre de Sorocaba, a administradora de empresas atua na Frontiers, organização cuja missão é inspirar movimentos de discípulos de Jesus que transformem as realidades de povos muçulmanos não engajados. Faz isso por meio de equipes dispostas a viver nas mais remotas fronteiras.

De 2008 a 2013, Katsue integrou uma dessas equipes: morou junto a uma etnia muçulmana na qual não havia a presença de nenhuma igreja (propositalmente, optou-se por não mencionar o lugar). Na entrevista a seguir, ela conta um pouco sobre essa experiência e dá alguns conselhos para os jovens que consideram ser testemunhas de Cristo em um contexto transcultural.

Martureo – Como começou seu envolvimento com o aspecto transcultural da Missão?
Katsue Takeda – Foi na época de faculdade. Um grupo de amigos, atuantes em diferentes movimentos universitários, começou a se inquietar com o chamado para dedicar suas carreiras testemunhando de Jesus em um contexto transcultural. Tinha gente da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB)CRU Brasil, antiga Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo , Toca do Estudante… Éramos alunos principalmente do Mackenzie e da Universidade de São Paulo (USP), onde me formei em 2006. Em outubro de 2005, aconteceu o IV Congresso Brasileiro de Missões (CBM) e mais pessoas desse grupo se dispuseram a ir para o campo. Foi aí que surgiu a Aliança Universitária para Missões (Alumi), um movimento que inspirou e inspira o envolvimento de jovens com Missões.

M – Você decidiu ir para um contexto transcultural na época de faculdade, então?
KT – Nessa época, lembro de ter recebido uma ficha para eu assinalar como seria meu envolvimento. Dentre as opções, havia “orando”, “contribuindo”, “indo”… Assinalei um item, o “contribuindo”. Eu trabalhava, tinha um bom emprego, entendia que meu papel era apenas esse. O próximo passo foi me aproximar de algumas agências missionárias como consultora. Eu fomentava melhores práticas administrativas em empresas, e entendi que poderia, além de contribuir financeiramente com Missões, colocar meus dons e talentos à serviço do Reino dessa forma. Aí, comecei a me perguntar de que outras formas eu poderia atuar na missão de Deus. Decidi dar uma pausa em minha carreira, que ia muito bem, e rodar o mundo por um ano. Queria conhecer, entender melhor o que Deus estava fazendo. Em uma de minhas paradas, em 2007, estive em uma comunidade na qual não havia nenhum seguidor de Jesus, isso mexeu comigo. Decidi: “Quero usar minha vida em um lugar onde não há nenhum testemunho cristão”.

M – Entre a decisão de ir e chegar nesse local, o que precisou acontecer?
KT – Por conta da proximidade com algumas agências missionárias em função da consultoria que prestei, e de circular no meio de pessoas que já estavam no campo ou se preparavam para tal, eu tinha certo conhecimento do processo. Considerava cursar Teologia ou um Mestrado em Missões. Fiz contato com a Frontiers falando de meu desejo e, em 2008, menos de dois anos depois, saí do País. Fui a primeira obreira brasileira da Frontiers. Eles têm uma metodologia diferente, há um preparo no país de origem – atuo nessa área no momento –, mas o treinamento de fato acontece no campo mesmo. Como parte do pré-campo, participei do curso de antropologia cultural ministrado pelo Ronaldo Lidório, de um projeto piloto da organização Perspectivas Brasil, tive mentores que me acompanharam. Acreditamos muito em parcerias para formar os obreiros, a Missão Evangélica Árabe do Brasil (Meab) e o Martureo, por exemplo, são organizações que têm contribuído muito com a formação dos que atuam em um contexto muçulmano. Quando cheguei no local, os primeiros três semestres foram para aprender a língua.

M – Como se deu a sua atuação fora do Brasil?
KT – A etnia que visitei e que me tocou por não ter nenhum contato com o evangelho é muçulmana. Deus atuou de forma incrível e foi exatamente nela que vivi como estudante dos meus 25 a 30 anos junto com uma equipe de cristãos de outros países.

M – Pensou em permanecer no local?
KT – A ideia era essa, mas o líder de nossa equipe, um americano, enfrentou problemas de saúde na família que demandaram cuidados específicos. A dor de sair só não foi maior porque vimos que Deus estava trabalhando. Quando chegamos em nossa cidade, éramos apenas a nossa equipe focada em plantação de igrejas. Quando saímos, havia 22 outros cristãos com esse propósito! Deus havia multiplicado nossos esforços. Confesso que ainda tenho o desejo de retornar, agora com meu esposo, a um lugar em que a presença de cristãos é inexistente ou mínima, vamos ver para onde Deus nos direcionará.

M – Que lições você traz da experiência que já acumulou?
KT – As agências precisam de coragem para inovar, entender que o tempo presente requer novos modelos para o envio de obreiros transculturais. É necessário ter ousadia. Obviamente, precisamos ouvir muito os mais experientes, quem já fez, aprender com a história, respeitar o que já vivemos. A Igreja brasileira, por sua vez, precisa de unidade, desenvolver um olhar de graça e se desvencilhar de um olhar julgador. Fico feliz com o progresso que temos feito na área do cuidado com equipes e famílias de missionários. Porém, não podemos nos esquecer que o sofrimento faz parte de nossa jornada. Não podemos sair a campo sem uma sólida compreensão do que Deus nos diz a respeito do sofrimento.

M – O que você diria para um jovem cristão estudante?
KT – Entenda quem você é em Deus, busque informações sobre o que Jesus está fazendo no mundo e se maravilhe com isso. Com certeza sua perspectiva sobre seu papel na missão de Deus vai mudar. Considere estudar fora do País, fazer faculdade ou trabalhar em um lugar em que você possa ser uma testemunha estratégica de Jesus. Há possibilidades concretas para você fazer isso como parte de uma equipe e debaixo de supervisão séria em países como Índia, Sudão, Chade ou China. Também é possível atuar remotamente. Há uma jovem arquiteta em Goiânia, por exemplo, que faz projetos para cristãos que estão na Etiópia sendo testemunhas de Cristo por meio da construção civil.

M – Como o jovem cristão inicia essa jornada?
KT – Sugiro que ele tenha um mentor, preferencialmente um cristão maduro com visão global do Reino, de sua igreja local, que o acompanhe e oriente. Nem sempre é fácil encontrar essa pessoa, mas não desista! Deus também tem usado um movimento no Brasil chamado Vocare, cuja missão é conectar a juventude brasileira na Missão de Deus, apresentando conceitos e oportunidades concretas para envolvimento imediato com diferentes organizações. Outra forma excelente para começar é fazer o curso da organização Perspectivas Brasil. Para quem já está interessado no mundo muçulmano, sempre recomendamos o curso da Sepal (EAD) chamado “De Maomé ao Estado Islâmico” – foi o próprio Marcos Amado, Diretor do Martureo, que o organizou. Super acessível, ele fornece base para o envolvimento com a Frontiers. O pastor Osmar Ludovico, alguém que tem me ajudado bastante ao longo de minha jornada, diz que entendemos nossa vocação somente depois dos 40. Até lá, devemos experimentar, conhecer, nos descobrir.

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