O Movimento Missionário Brasileiro e as Novas Gerações

Marcos Amado

Esse ano, o movimento Vocare realizou seu terceiro encontro em Maringá, no Paraná. É uma conferência realizada pela Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) que tem o objetivo de acender a chama missionária no coração dos jovens evangélicos brasileiros. No ano passado tive o privilégio de participar do “Vocare 2016″ e foi uma das conferências que mais me entusiasmou nos últimos anos. Foi impressionante ver 1300 jovens reunidos durante quatro dias para adorar ao Senhor e buscar a Sua vontade.

Ao ver um movimento como esse, não me resta a menor dúvida de que algo muito especial está acontecendo no Movimento Brasileiro de Missões. Sempre que Deus toca o coração de uma nova geração, o Espírito começa a agir e, certamente, grandes coisas fará o Senhor. Porém, ao tempo que vejo esse momento positivo e esperançoso, algumas preocupações me vêm à mente.

No final dos anos 70 Deus começou a mover a igreja evangélica brasileira de maneira especial para assumir sua responsabilidade missionária. Surgiram centenas de agências missionárias, e milhares de missionários brasileiros foram enviados para diferentes partes do mundo. Apesar da impetuosidade com a qual alguns foram enviados, sem o preparo e treinamento adequados, na Sua misericórdia grandes coisas fez o Senhor. Minha família e eu tivemos o privilégio de fazer parte de uma dessas primeiras “levas” e, em 1986, fomos enviados para o Marrocos, um país árabe muçulmano.

Mas a percepção que eu tenho é que depois de ter ficado 23 anos fora do Brasil, nós, brasileiros, mantivemos um conceito de Missão que, em minha opinião, precisa ser ampliado e atualizado. Precisamos rever o que significa fazer missões no Século XXI, assim como entender de que maneira as novas gerações se envolverão nos desafios que temos diante de nós.

Para encontrar respostas, mesmo que parciais, tentarei, em primeiro lugar, definir qual é a compreensão tradicional evangélica de missões.

A Compreensão Tradicional de Missões

O modelo missiológico que herdamos na década de 80, seja em relação à nossa atuação no Brasil ou no mundo, nos levava a definir a missão baseados quase que exclusivamente nas passagens da Bíblia que contém ordens claras. Em outras palavras, se fizéssemos uma pesquisa sobre quais eram os principais “versículos missionários”, é bem possível que pelo menos cerca de 70% mencionariam ao menos dois versículos que conhecemos muito bem: “Ide por todo mundo, e pregai o evangelho a toda criatura.” (Marcos 16.15) e “Ide, portanto fazei discípulos de todas as nações“ (Mateus 28.18).

Há uma característica comum nesses dois trechos. Vemos aqui dois mandamentos explícitos de nosso Senhor Jesus. E pelo fato de basearmos a nossa definição de missões principalmente nessas passagens bíblicas que possuem claramente um mandamento ou uma ordem, a nossa conclusão missiológica nos anos 80 e 90 acabou sendo óbvia: existe uma ordem da parte do nosso Senhor Jesus, “o nosso general é Cristo”, eu “sou um soldadinho de Jesus”, “vou com Josué lutar em Jericó”, sou parte do Exército de Deus e “nenhum inimigo nos resistirá” (acho que consegui abranger boa parte da musicologia evangélica brasileira das últimas décadas). Com essa perspectiva é notório que nós começamos a ter uma visão triunfalista da missão, e sua definição passou a ter uma conotação quase que militar, já que era fruto de uma ordem de um lado e da obediência do outro. E, obviamente, se meu general é Cristo e Ele me deu uma ordem não me resta alternativa a não ser obedecer e fazer parte do Exército de Deus sabendo que romperei em fé e conquistarei as hostes do inimigo.

Todavia, como Christopher Wright (1) costuma dizer em seus livros e aulas, o fato de termos uma definição de missões baseada principalmente nessas passagens bíblicas (que ele chama de passagens bíblicas imperativas, ou seja, trechos que apresentam um mandamento claro), traz consequências importantes. Nas nossas conferências e em nossos planejamentos missionários usamos metáforas militares como: “estamos em uma guerra”, “precisamos recrutar”, “vamos estabelecer estratégias e alvos”, “vamos fazer campanhas”, “vamos realizar cruzadas”, “vamos conquistar povos não alcançados”, “vamos derrubar fortalezas”, “vamos mobilizar a força missionária”, “vamos derrotar as hostes do inimigo”. E, depois de tudo isso, dizemos que o que nós queremos é comunicar o amor e a reconciliação de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor!

Tanto no caso particular dos muçulmanos, quanto com qualquer outro povo, seja no Brasil ou em outra parte do mundo, esse tom não passa despercebido. Eles estão lendo nossos livros e artigos, assistindo nossas conferências e prestando atenção na terminologia que usamos. E quando vamos até eles dizendo “Jesus te ama”, eles nos olham e dizem: “Vocês afirmam que Jesus nos ama, mas vocês estão aqui com intenções imperialistas querendo conquistar e impor uma religião”.

Na verdade, seria um exercício muito interessante realizar uma busca em toda a Bíblia para ver se encontramos passagens onde Jesus está nos dando a ordem de comunicar uma religião ou “conquistar” um país ou grupo étnico. Creio que o que encontraremos nessa busca é Jesus ensinando-nos que devemos apresentá-lo, no Brasil e no mundo, como o Cristo que nos ama a tal ponto que morreu para salvar todos aqueles que nele creem.

Com essa missiologia, nos anos 80 e 90 nós acabamos chegando a três conclusões principais:

  1. Tendo como base esses versículos que contém ordens e mandamentos, era muito fácil decidirmos onde tínhamos que fazer missões: Jerusalém, Judéia, Samaria e os confins da Terra. E como nós interpretávamos isso? São Paulo, Brasil, Argentina, Marrocos, Jakarta, etc.
  2. E qual era a nossa missão tendo como base esses nossos versículos preferidos? Pregar o Evangelho, ensinar e fazer discípulos e estabelecer novas igrejas no Brasil e no mundo. Com isso podíamos declarar: missão cumprida!
  3. A terceira conclusão a qual chegamos era que o protagonista era eu, o missionário! A missão é minha, Deus me deu. Eu tinha sido enviado! Era como se a evangelização do mundo dependesse da minha dedicação, e não da ação poderosa de Deus.

O problema com essas três conclusões é que nossa motivação missionária não pode ser fundamentada somente no fato de termos recebido uma ordem.

Mas, será que existe algum problema com os versículos que comunicam algum mandamento ou ordem clara? É óbvio que não! Será que existe algo de errado em evangelizar, discipular e estabelecer igrejas no Brasil e entre os grupos étnicos não alcançados? Certamente não! São aspectos que estão claramente explicitados na Bíblia.

O problema não é o que a nossa definição de missão tradicional, baseada nos nossos versículos missionários preferidos, afirma, mas sim no que ela deixa de afirmar.

Ampliando nossa Percepção

Note que apenas uma minoria dos versículos bíblicos registram mandamentos ou ordens específicas. Cerca de 60% ou 70% da Bíblia contém histórias, profecias, poesias, cartas, etc. E se nós estamos baseando nossa definição de missões somente nestes 30% onde existem mandamentos, isso quer dizer que você e eu estamos deixando 70% da Bíblia de fora. Ao adotarmos essa postura, em minha opinião estamos cometendo um grande equívoco.

Corremos o risco de termos uma visão reducionista, além de parcialmente equivocada, sobre quem é o protagonista da missão e sobre a abrangência do desafio que nós temos em nossas mãos. É por essa razão que, para alguns missiólogos, a única forma de você e eu termos uma compreensão correta e equilibrada do que é missão, é também levando em consideração passagens da Bíblia que falam sobre o caráter de Deus e sobre o que Ele está fazendo no mundo.  Não devemos deixar de fora as passagens em que encontramos um mandamento específico de ir e pregar o Evangelho a todo mundo. O que precisamos fazer é olhar também para as demais passagens, pois ao fazer isso:

  • Vamos incluir em nossa definição passagens que afirmam que Deus quer abençoar todas as famílias da terra como nós lemos em Gênesis;
  • Nós incluiremos em nossa definição de Missões as passagens onde nos finais dos tempos, como resultado da ação de Deus, as nações serão curadas, conforme afirma Apocalipse 22;
  • Ressaltaremos passagens que indicam que nosso Deus, conforme vemos em Êxodo 6, é um Deus que liberta, é um Deus que livra da escravidão, é um Deus que resgata, é um Deus que nos toma como seu povo e que nos leva para uma terra que mana leite e mel. Ou seja, é um Deus que nos dá paz em abundância;
  • Nós incluiremos passagens que afirmam que Ele, conforme vemos em Deuteronômio 10.17-19, é o Deus dos deuses, Senhor dos senhores, Deus grande poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, que não aceita subornos, que faz justiça ao órfão e à viúva, ama o estrangeiro;
  • Incluiremos, entre outras passagens, Lucas 4, que alguns chamam de ”O Manifesto de Nazaré”, onde vemos o próprio Jesus dizendo que Ele veio para trazer salvação, cura, libertação e proclamar as boas novas; ou ainda 2 Coríntios 5, que nos afirma que Deus estava, em Cristo, reconciliando o kosmos consigo mesmo.

E depois de vermos o próprio Deus mostrando como Ele atua, esse mesmo Deus nos diz qual deve ser a base da nossa ação. Ele está dizendo: assim como eu atuo, assim como eu me preocupo com a evangelização do mundo, pela plantação de igrejas, pelo pobre, pela viúva, pelos necessitados (que são aspectos intrínsecos da santidade de Deus), ele nos diz: “sejam santos, porque Eu o Senhor vosso Deus Sou santo” (Lv. 19). Em outras palavras, nosso ponto de partida para o cumprimento e a definição do que é Missão, é nada mais nada menos do que a santidade do próprio Deus, que nos chama para vivermos uma vida santa.  

Coadjuvantes na Missão de Deus

Quando levamos em consideração tanto os versículos que registram mandamentos, como aqueles que apresentam aspectos específicos sobre o caráter e ação de Deus no mundo, a conclusão a qual chegamos é que na verdade a missão de abençoar o mundo através do Evangelho, de levar cura e libertação para as nações, é a Missão do próprio Deus, e não a minha! É a missão do Deus Trino, do Deus Pai, Filho e Espírito Santo. É Ele quem toma a iniciativa. É Ele o protagonista. Você e eu somos apenas coadjuvantes da Missão de Deus de abençoar todos os povos desde o Brasil até os confins da Terra, pois é Ele quem salva e liberta. É Ele que venceu a morte, quem criará um novo céu e uma nova Terra. É Ele que enxugará toda lágrima e eliminará toda dor. É Ele que vai aniquilar, quando Ele criar O novo céu e A nova Terra, tudo que é impuro, enganoso e vergonhoso.

Ao considerar tudo isso, algo fantástico e incrível é que mesmo sendo soberano e apesar de a Missão ser Dele, Ele está chamando você e eu para termos um grandíssimo privilégio. Nós não somos dignos, mas por causa do sacrifício de Cristo na cruz, somos chamados, como coadjuvantes do Deus todo poderoso, a fazer parte da sua Missão de levar cura para todas as nações.

Há razões para se acreditar que, historicamente, uma boa parte do Movimento Missionário Brasileiro tem se aferrado a uma definição reducionista da Missão, ou seja, não estamos levando em conta toda a narrativa bíblica quando tentamos definir o que é Missões. Não estamos entendendo que a Missão é de Deus, e nós, como seus coadjuvantes, somos chamados a fazer parte da Sua missão “sendo testemunha do Senhor Jesus e de todo o seu ensinamento, em todo o mundo e em todas as esferas da sociedade”. (2)

Falsa Dicotomia

Mas, infelizmente, o que se vê é um discurso permeado por uma dicotomia falsa, como se tivéssemos que escolher entre evangelizar ou nos preocuparmos com o sofrimento humano. O que corre nos bastidores da missiologia e do evangelicalismo brasileiro atual é que temos que eleger entre uma missiologia que os detratores chamam de antropocêntrica ou uma missiologia cristocêntrica. E se você está de um lado ou de outro, você é rotulado de direita ou de esquerda, de fundamentalista ou de liberal. E uma vez que recebe um desses rótulos, não consegue mais se livrar dele.

Mas no coração de Deus, nos ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, na história da Igreja Primitiva, assim como na teologia e ações dos pais da Igreja não há essa dicotomia forjada. Minha esperança é que possamos deixar isso de lado e nos concentrarmos em deixar as marcas do Reino de Deus em todas as esferas da sociedade.

Repito, se vamos definir missões usando toda a Bíblia, nós aceitaremos a definição de que “fazer” missões significa ser testemunha do Senhor Jesus Cristo e de todo o seu ensinamento em todo mundo, e em toda a esfera da sociedade. E eu desejo ressaltar a expressão “todas as esferas da sociedade”. A minha esperança é que possamos ver isso nas novas gerações, e se o Senhor nos permitir, também nos da minha geração que ainda são atuantes e influentes no contexto missionário brasileiro.

As Implicações de Uma Definição mais Ampla

Na prática, quando vinculamos os versículos imperativos (que contém mandamentos) e os versículos indicativos (que falam sobre quem Deus é e o que Ele está fazendo), e tendo o sacrifício de Jesus na cruz como balizador de nossa missiologia, vamos, de fato, nos envolvermos em todo o mundo e em todas as esferas da sociedade.

Dessa maneira, iremos, ao mesmo tempo, discipular e nos preocuparmos com o órfão, a viúva e o estrangeiro. Ensinaremos a Palavra de Deus, mas também daremos atenção aos campos de refugiados do Iraque, da Síria, do Líbano, da Turquia, etc. Meditaremos profundamente na Palavra, mas também influenciaremos amplamente as discussões atuais em relação à biotecnologia, à nanotecnologia, à politica, à internet e às pesquisas com células tronco, fazendo com que a cosmovisão bíblica permeie e tenha o seu lugar no centro das discussões globais.

Acredito que se a geração missionária (incluindo líderes e pastores) dos anos 80 e 90 tivesse entendido o que significa realmente participar da Missão do Deus todo-poderoso, e não tivesse feito a dicotomia que menciono acima, a situação ética e política do nosso país não estaria como a vemos hoje. É inadmissível que 40 milhões de evangélicos não consigam fazer uma grande diferença na fibra moral desta nação.

Em minha participação como coadjuvante na Missão de Deus vou evangelizar os não alcançados nos lugares mais remotos, mas vou prestar atenção ao fenômeno da urbanização, já que os não alcançados estão vindo à nossa porta e estamos ignorando esse fato. Vou orar sem cessar, mas vou me preocupar com a singularidade de Cristo em um mundo pluralista. Irei me preocupar com a minha espiritualidade pessoal, mas também vou pensar que faz parte da nossa missão o cuidado com a criação. Vou me preocupar com a verdadeira ortodoxia bíblica, mas também vou me preocupar com o mundo ferido e dividido pelas doenças, pobrezas, guerras e pessoas que precisam desesperadamente escutar que existe reconciliação através da morte de Cristo na cruz. Vou plantar igrejas, mas vou me preocupar com a cura das nações. Levarei em conta as nove marcas de uma igreja saudável, mas também vou me preocupar em deixar as marcas dos valores do Reino de Deus por qualquer lugar por onde eu passar, seja no Congresso Nacional, na Universidade de São Paulo, ou estabelecendo uma igreja nos confins da Terra, em um grupo étnico não alcançado.

Tomemos como exemplo real do que significa ser testemunha do Senhor Jesus em todo o mundo e em todas as esferas da sociedade, um jovem brasileiro fazendo missões, juntamente com sua esposa, no Oriente Médio. Muitas vezes a geração anterior duvidou (ou duvida) de que o que ele está fazendo possa ser considerado missão. Esse jovem teve o privilégio de estudar em uma excelente universidade e se formar em negócios e marketing. Fez treinamento bíblico e missiológico e foi enviado por sua igreja local a um país muçulmano. Especializou-se em comunicação e mídias sociais, trabalha com uma organização cristã que existe neste país muçulmano na área de desenvolvimento de páginas WEB, e ajuda ONGs cristãs desse país, ONGs estas que estão cuidando dos refugiados oriundos de outros países, muitos deles muçulmanos, para que através da internet e vídeos essas organizações possam mostrar o que estão fazendo e levantar recursos necessários para o trabalho que está sendo feito. Como decorrência desse esforço conjunto de um grupo de cristãos, com diferentes dons e atuando em diferentes áreas profissionais, que estão testemunhando de Jesus em todas as esferas da sociedade em parceria com igrejas locais, Deus está atuando entre os muçulmanos.

Deus nos ajudará a participarmos de tudo isso como coadjuvantes na sua missão, no poder do Espírito Santo de Deus, usando os dons, os talentos, os estudos universitários, as experiências de vida, a profissão e tudo aquilo que Ele permitiu que adquiríssemos.

Algumas Perguntas Importantes

Porém, para que isso aconteça, creio que a liderança do movimento missionário brasileiro terá de ter consciência de que temos em nossas mãos um Evangelho imutável e um Senhor que é o mesmo ontem, hoje e para todo sempre, mas que esse Evangelho precisa responder a novas questões que surgem a cada dia como resultado de vivermos em um mundo em transformação.

Isso faz com que mudanças significativas sejam necessárias em nossa forma de pensar, agir e ver a missão, se é que não queremos perder o bonde da história. O cristianismo no “Sul global” continua crescendo, o que aumenta nossa responsabilidade missionária. Com isso, algumas das questões que, como movimento, precisamos considerar seriamente, principalmente se vamos levar em conta as novas gerações, são:

  • Quando enviamos missionários do Brasil para o Oriente Médio, África e Ásia, nossos centros de treinamento estão formando missionários com uma definição reducionista da missão e uma mentalidade que os leva a crer que estão levando Deus para essas regiões. Porém, em algumas dessas regiões a Igreja já existe há 2 mil anos, apesar de toda a dificuldade e perseguição que sofrem. Eles têm líderes bem preparados e não precisam que nossos missionários cheguem crendo que possuem todas as respostas que a Igreja está buscando, mas sim de obreiros brasileiros dispostos a submeterem-se à liderança local, com uma atitude de servo.
  • Há pouca comunicação e cooperação entre os cristãos do Sul global. Precisamos conhecer melhor a Igreja e o movimento missionário da Nigéria, Egito, Índia, China, etc. e, dessa forma, promover um intercâmbio de ideias, estratégias e recursos que potencializem o trabalho missionário.
  • Há um grande distanciamento entre as igrejas brasileiras ditas tradicionais e seus centros de treinamento missionário, e o movimento pentecostal. Sem que haja maior colaboração entre cristãos históricos e pentecostais, não estaremos sendo bons mordomos dos recursos que o Senhor colocou em nossas mãos.
  • Existe a necessidade urgente de uma reavaliação do que deveria ser o treinamento missionário do cristão no século 21. Parece que estamos falando e fazendo a mesma coisa ao longo dos últimos 30 anos. Quais mudanças são necessárias e qual deve ser o conteúdo básico?
  • No processo de envio do missionário, será que estamos confundindo qual deve ser o papel da igreja, do Seminário Teológico, do Centro de Treinamento Missionário e o da Agência Missionária? Será que é por isso que há tamanha proliferação de pequenas escolas bíblicas e centro de treinamentos, alguns deles com não mais que oito ou dez estudantes, e os mesmos professores dando as mesmas aulas nesses diferentes centros missionários e escolas bíblicas ao redor do Brasil?
  • Qual deve ser o papel da agência missionária? Será que, sem mudanças significativas em suas propostas, as agências não estão correndo o risco de se tornarem irrelevantes para os jovens vocacionados, devido às grandes mudanças sociais, eclesiásticas e tecnológicas das últimas décadas?
  • Será que nas nossas pregações e treinamentos missionários não estamos ensinando os cristãos a serem antagônicos em relação a pessoas de outras religiões? Ou seja, em vez de ensinarmos como amar, estamos ensinando como nos defender ou mesmo atacar pessoas de outra religião?
  • Em 1925 o missiólogo e missionário à Índia Stanley Jones disse que naquela região do mundo o cristianismo estava “indo além das fronteiras da Igreja Cristã” (3). Hindus estavam aceitando a Cristo como o Senhor de suas vidas, mas sem estar integrados ao que tradicionalmente entendemos por igreja. Isso foi há quase um século! Hoje Deus continua agindo de maneiras incríveis ao redor do mundo. Estamos vendo hindus, muçulmanos, budistas e pessoas de outras religiões rendendo-se aos pés de Cristo de maneiras inusitadas.  Será que estamos preparando nossos missionários para aceitarem o que Deus está fazendo?
  • Será que há espaço para pensarmos num Evangelho ”encarnado” e, ao mesmo tempo, na evangelização e discipulado de todas as etnias ao redor do mundo, sem, com isso, criarmos divisões e discussões sem fim?
  • Como já mencionado brevemente acima, o que fazer com a nova onda de colocarmos rótulos tais como direita, esquerda, fundamentalista, liberal, etc.? Será que não conseguimos chegar a um consenso sobre o que significa, na sua essência, ser evangélico, e aceitarmos que podemos divergir em pontos não essenciais? Em outras palavras, será que podemos ter unidade no Movimento Missionário Brasileiro, sem, necessariamente achar que haverá uniformidade, permitindo, assim, olharmos uns para os outros simplesmente como fieis seguidores de Cristo Jesus?

Nós que somos de outra geração, precisamos enfrentar essas questões e entender que Deus está atuando de diferentes maneiras; que precisamos, sim, passar o bastão, entendendo que o controle não é nosso, mas do Espírito Santo de Deus. Precisamos que aqueles que fazem parte de gerações mais antigas, se unam ao que Deus está fazendo usando jovens por esse mundo afora, jovens com mentalidade diferente e envolvidos em iniciativas distintas.

Afinal a missão é de Deus. Ele é o “diretor do filme” das nossas vidas e do nosso ministério. Somos coadjuvantes. E Ele está nos convidando para sermos parte daquilo que Ele já está fazendo ao redor do mundo.

Notas:

(1) Vários conceitos apresentados nesse artigo são oriundos das aulas e leitura dos livros de Christopher Wright. Dois livros que foram recentemente publicados no Brasil e que certamente seriam de ajuda para um maior aprofundamento no tema são: “A Missão de Deus” e “A Missão do Povo de Deus”, ambos publicados pela Editora Vida Nova.

(2) Compromisso da Cidade do Cabo (Movimento de Lausanne).

(3)  The Christ of the Indian Road, Abingdon Press (1925), New York, 63.

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