Time de futebol tailandês – sem esperança de encontrar uma saída – é resgatado. Breve descrição de práticas budistas

Alex G. Smith

Pessoas de diferentes nacionalidades alegraram-se com a notícia do resgate do time de futebol formado por jovens tailandeses que ficou preso por duas semanas em uma caverna em Chiang Rai, no norte da Tailândia. A possibilidade iminente de ficarem para sempre sepultados na caverna alagada mobilizou a população mundial para que o time “Wild Boars” (que significa javalis selvagens) não sucumbisse e fosse resgatado.

Essa história emocionante motivou de forma global intercessores de todas as religiões. Práticas sacramentais as mais diversas aconteceram na entrada da caverna – meditações budistas, ritos xamânicos, rituais animistas e orações cristãs. A dramática situação mobilizou e uniu especialistas ao redor do planeta. Pessoas treinadas em sobrevivência e resgate de diferentes nações juntaram-se para planejar e implementar as melhores práticas para retirar da caverna escura e úmida o grupo que agonizava com a desgraça. Técnicos qualificados, então, iniciaram uma operação de resgate perigosa, ousada e delicada que levou três dias. Tailandeses e outros mergulhadores da marinha enfrentaram obstáculos perigosos na preparação do caminho de fuga. O tempo era um dos maiores inimigos na tarefa de libertar aqueles jovens enfraquecidos daquele buraco negro ameaçador. Em 10 de julho de 2018, todos os 13 foram salvos. O eco de um suspiro profundo de alívio ecoou pelo mundo.

Repórteres de canais internacionais cobriam as ações arriscadas passo a passo. Inadvertidamente, a mídia divulgou detalhes de práticas espirituais a que as famílias (e profissionais religiosos envolvidos com o resgate) recorreram na esperança de libertar seus filhos e aliviar a angústia e a ansiedade. Nesse processo, observadores externos não conseguiam descrever de forma correta ritos complexos tailandeses, bem como seus muitos significados religiosos. Como eu servi na Tailândia por 20 anos, descrevo alguns a seguir.

É comum, na Tailândia, que as cavernas tenham nome de espíritos femininos que, segundo a crença, habitam nesses lugares. O nome da gruta da tragédia – Tham Luang Nang Non – significa caverna da dama reclinada (espírito). Noticiários mostraram tailandeses oferecendo comida e bebida para Luang Nang Non. Integrar perspectivas animistas com o budismo é algo comum entre os tailandeses. Tanto praticantes de religiões de origem tribal como monges budistas realizavam cerimônias na entrada da caverna cujo propósito era apaziguar entidades espirituais. Concomitantemente, cristãos tailandeses oravam para o Deus Criador pedindo que o grupo fosse salvo.

Em prol do time de futebol sitiado, monges também entoavam textos budistas e recitavam “orações” que fazem parte de seus rituais – não por suas almas, mas pela libertação física das garras da úmida caverna, pois, de acordo com um ensinamento fundamental de Buda, os humanos não têm nenhum elemento permanente (anatta), ou seja, as pessoas não têm alma, espírito ou self (eu próprio).

Apesar disso, contrariando essa crença, vários médicos espíritas tailandeses (xamãs), acompanhados de tambores e objetos místicos, realizaram cerimônias usando redes de pesca locais (quadradas) para tentar capturar espíritos inimigos da natureza que assombram nascentes e cavernas, locais considerados sagrados pelos tailandeses.[I] Isso também pode ter sido feito no intuito de chamar de volta as “almas” dos meninos do time de futebol para que não deixassem seus corpos. Muitos tailandeses creem ter 32 almas (khwan) no corpo e um espírito (winyaan).

Na verdade, os budistas tailandeses folclóricos enxergam que, no mundo, todas as formas de vida natural relacionam-se entre si. Eles não se veem desconectados e distintos dos seres da natureza ao seu redor, são parte integrante de um mundo em que há animais, plantas, montanhas e espíritos. Com base nisso, muitas vezes fazem orações e oferendas aos espíritos de todas as coisas vivas no mundo.

Claro que estamos tratando de um contexto em que as famílias tailandesas estavam profundamente preocupadas com seus filhos aprisionados na caverna e, por isso, reverenciavam imagens e, com fervor, “oravam” em santuários. Alguns, em desespero, talvez até imploraram para que Deus os libertasse. No entanto, como os budistas não acreditam em um Deus Criador pessoal, eles provavelmente não direcionavam suas orações a Deus. Em vez disso, clamaram para Buda, o mundo espiritual, deuses desconhecidos ou espíritos ancestrais. Como parte de suas obrigações religiosas, os tailandeses oferecem frutas, flores, alimentos e bebidas a esses espíritos. Suas orações são contratuais (relações de troca, semelhantes às promessas feitas no Brasil), no intuito de manipular o mundo dos espíritos, persuadi-los a atender seus pedidos. Mas a autoconfiança ou qualquer habilidade humana não produzem respostas milagrosas. Na oração cristã, os crentes levam as necessidades humanas ao Deus vivo e dependem inteiramente do Senhor para receber respostas. E Deus responde, segundo sua graça e bondade, por meio de seu poder e misericórdia.

A imprensa ocidental, mais de uma vez, ignorou ou minimizou muitas das realidades espirituais tailandesas, bem como as orações dos cristãos tailandeses. O foco ficou na meditação, comum no budismo tailandês Theravada. Essa seria a possível razão de o resgate ter sido bem sucedido. O treinador “supostamente” guiou seu time por meio da meditação.[II] Há duas formas básicas de meditação: a respiratória (samatha), para limpar a mente; e a medidação de insight (vipassana), para enxergar a verdadeira natureza das coisas. Um americano defensor do budismo declarou: “Você está em uma caverna apenas se pensa que está em uma caverna”.[III]

A meditação cristã é diferente das disciplinas budistas. A primeira engaja a mente em Deus e em sua Palavra; a segunda desconecta a mente de tudo, esvaziando-a. Cristãos valem-se de processos racionais, levando todos os pensamentos cativos à obediência de Cristo; budistas suprimem o processo racional a fim de adquirir a calma mental. Crentes focam mente e coração em Deus, não em si próprios; seguidores de Buda buscam o desapego, esvaziando suas mentes para alcançar o silêncio interior. Cristãos concentram-se em ouvir a voz do Espírito Santo de Deus e sua Palavra, budistas concentram-se em um único ponto central para obter autoconhecimento. A primeira tem relação com a pessoa de Deus, seus atributos, obras, graça, compaixão e misericórdia; a outra foca no próprio agente da meditação, que se esforça para ser um com a natureza de Buda ou com o mundo de Buda, e é não relacional. Apesar das diferenças, a meditação é algo que faz parte do contexto de quem é religioso. Muito budistas levam isso extremamente a sério. A Bíblia recomenda de forma clara que todos as pessoas “meditem dia e noite” em na sua magnífica pessoa, providência benéfica e grande poder.[IV]

Antes de ser treinador da equipe, o tailandês Ekapol foi, por dez anos, noviço em um mosteiro budista. Lá, os monges o ensinaram a respeito da meditação. Quando havia alguma crise na caverna, ele disse ter instruído a jovem equipe a meditar.[V]Segundo ele, o propósito era poupar a energia dos meninos, acalmá-los quanto a seus temores, controlar a ansiedade e manter a sensação de paz. Provavelmente, ele disse: “Parem, respirarem devagar, deixem tudo ir”. Isso ajudou para que permanecessem unidos, como o lema do romance Os Três Mosqueteiros: “Um por todos e todos por um”. No budismo, a meditação não tem qualquer relação com Deus. Ela é, essencialmente, fruto de treino, habilidade e capacidade de concentração de quem a pratica. Não se pode negar, contudo, que a meditação provavelmente ajudou o time de futebol, completamente isolado por vários dias, em sua luta pela vida quando as circunstâncias estavam fora de controle. Pode tê-los ajudado psicologicamente, mas a meditação não os salvou. Eles continuaram à mercê de ajuda externa crucial, bem como do Deus soberano, para conseguirem sair.

De forma geral, os tailandeses consideram problemas sérios como o que acometeu o time resultado de um carma ruim. E nada nem ninguém muda o carma! Surpreendentemente, respostas motivadas pela emoção uniram a nação e o mundo a fim de salvar os Wild Boars. Ao contrário do que indicavam as probabilidades, a unidade que não é comum, o sacrifício altruísta, a profunda determinação e as orações incessantes prepararam o caminho para o resgate bem-sucedido sob a vigilância e o cuidado soberano de Deus.

De forma tocante, um mergulhador da marinha tailandesa sacrificou sua vida na preparação do perigoso caminho dentro da caverna que a equipe percorreria para escapar. Antes de morrer, ele posicionou tanques de oxigênio ao longo do túnel escuro, essenciais para que eles pudessem sobreviver.[VI] Sem essa disposição para se sacrificar, o resgate não seria bem sucedido. Isso motivou as equipes de resgate a se comprometer com a meta de fazer todos do time saírem vivos. O sacrifício do mergulhador também levou o mundo a lembrar do amor de Deus, que se sacrificou na cruz – “O Pai enviou seu filho para ser o Salvador do mundo”.[VII]

Também foi surpreendente que, dentre os 13 que estavam presos na caverna, havia um cristão. Adul Sam-on, oriundo da tribo Akha, de 14, anos, é um cristão firme. Nascido em Mianmar, ele imigrou para a Tailândia em busca de uma melhor educação. Considerado apátrida, ele é o único cristão entre os Wild Boars. O Pastor Choo, da Igreja Taa Changa, fundada pela organização OMF na Tailândia Central, é da tribo Akha. Quando o incidente ocorreu, ele estava na Tailândia. Segundo relatou, Adul fala tailandês, birmanês, chinês e inglês e foi o único capaz de se comunicar com os mergulhadores britânicos quando eles encontraram o grupo onde estava preso.[VIII] Teria Deus colocado Adul na equipe para que ele facilitasse o resgate?! Um dos mergulhadores britânicos declarou que encontrá-los foi um milagre de Deus. Um pastor de Bankoc afirmou: “Conheço Adul por intermédio de um amigo em Chiang Rai. Adul é um cristão que tem muita devoção a Deus. Ele aprendeu quatro línguas, é músico e se destaca em esportes. Ele compartilhou com sua igreja o desejo de ser um jogador de futebol a serviço de Deus. Esse era seu sonho”.[IX] Talvez Adul tenha usado a oportunidade terrível de estar naquela caverna sinistra para testemunhar de Cristo para seus amigos. “Mesmo que eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem.”[X]

De forma significativa, as igrejas dos quatro cantos do mundo intercederam com devoção para que o time sobrevivesse. Amigos de Adul da Blessing Church (Igreja da Bênção) em Mae Sai, na fronteira com Mianmar, cantaram e oraram do lado de fora da caverna para que ele e sua equipe escapassem da morte iminente em segurança. O pastor Choo relatou que os cristãos em Chiang Rai reuniram-se algumas vezes no campo de futebol do Chiang Rai United para orar juntos. A província de Chiang Rai tem uma das maiores concentrações de cristãos – 91.000, 7,12% de sua população.[XI]  Toda a Tailândia tem apenas 486 mil cristãos – apenas 0,74% de seus 66 milhões de habitantes. Devemos orar regularmente pela Tailândia, pedindo a Deus que abençoe e transforme esse país, a nação mais budista da Terra. Que a essa presença cristã minoritária seja usada para glorificar o Senhor nas alturas.

Muitos tailandeses juraram que, caso os meninos fossem resgatados, eles se tornariam monges budistas. Sem dúvida, outros pagaram as promessas que fizeram com ofertas de agradecimento em casas espirituais, santuários e templos. Quanto aos cristãos, espera-se que em todo o mundo comprometam-se novamente com missões globais e não negligenciem os povos não alcançados. Muitos de diferentes povos, línguas e nações ainda aguardam uma clara proclamação do evangelho da salvação de Cristo. Quem resgatará milhões que ainda permanecem na escura caverna da ignorância e na escravidão espiritual? Quem os direcionará para “o único Redentor, Mediador e Salvador do mundo”? Você vai participar da missão de Deus?

 

Alex G. Smith
Atuou na organização OMF International por mais de 45 anos e, por 20 anos, serviu na Tailândia entre budistas. Desde então, ministra cursos sobre budismo, cristianismo e religiões do mundo em seminários da Ásia e do Ocidente. É autor de inúmeros artigos e livros em tailandês e em inglês.

 

[I] http://video.foxnews.com/v/5807497302001/?#sp=show-clips.
[II] http://abc7news.com/meditation-credited-with-helping-thai-soccer-team-survive-cave/3755061/.
[III] Ibid.
[IV] Josué 1.8; Salmos 1.2, 77.12, 119.15.
[V] https://www.vox.com/2018/7/9/17548512/thai-cave-rescue-soccer-boys-meditation-buddhism
[VI] https://blackamericaweb.com/2018/07/10/daring-rescue-saves-all-12-boys-soccer-coach-from-thai-cave/.
[VII] 1 João 4.14.
[VIII] Prayer News, boletim de julho de 2018.
[IX] A Way, e-mail de 6 de julho de 2018, Young Thai Christian footballer.
[X] Salmo 23.4
[XI] Ibid. Prayer News.

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