Mais listas, mais dados, mais possibilidades

Como informações ajudam no engajamento da igreja na missão de Deus

Rodrigo Tinoco

Refinamento das informações de povos (PNA-PNE)[1]

A América Latina está envolvida no movimento global de missões interculturais há décadas. Por algum tempo recebemos missionários de outras nações, e depois, pela graça de Deus, também nos envolvemos no envio.

A igreja latina foi impactada pelas listas de povos que foram apresentadas – PNA (povos não alcançados) e PNE (povos não engajados) –, e hoje podemos encontrar vários missionários com anos de experiência em campo transcultural que foram tocados por essas listas. Mesmo agora, em 2021, os esforços de mobilização global lançam mão de listas, e o movimento missionário latino-americano continuará a utilizá-las em nosso enorme desafio de engajar a igreja latina na missão de Deus. As listas têm sido extremamente úteis para:

  • Formar o entendimento sobre a grande comissão;
  • Fazer as pessoas
    1. orarem especificamente,
    2. obedecerem,
    3. irem.

Faço parte de uma iniciativa local que ajuda pequenos ministérios a ter uma visão diferente de seus dados. O fluxo de trabalho descrito a seguir começou a ser projetado com mais de 80 povos na Ásia (de um único país). Hoje, no entanto, o foco desse modelo de trabalho são mais de 102 povos no Brasil, e esperamos expandir para outros povos latino-americanos no próximo ano.

O desenho de qualquer fluxo de trabalho ministerial com dados é apenas instrutivo e sugestivo. Esses processos não são lineares e não são circulares; eles são apenas complexos. Muitos pequenos ministérios latinos estão tentando usar mais dados, partindo do pressuposto de que mais listas, mais dados, nos dão maiores possibilidades. Essa suposição precisa ser avaliada com base em duas ideias iniciais.

  1. Os povos se apresentam de maneiras diferentes dependendo de quem está perguntando. “Quem é você?” terá uma resposta para o governo, outra para a igreja local e ainda outra para o povo vizinho. A existência de múltiplas respostas nos leva à necessidade de sermos criativos na forma de representar os povos.
  2. Nosso grande objetivo quanto a listas ou dados macros é revelar povos [2]

Listas e dados macros

Entendemos que as listas internacionais são mais como dados macro. Com as constantes mudanças de nossos tempos, sabemos que a urbanização e a globalização estão causando rápidas mudanças em todos os lugares. Como os missionários latinos planejam quando e para onde ir, essas mudanças impactam diretamente a construção de estratégias de campo pós-chegada. O contexto de rápida mudança exige que os missionários coletem novas informações nos primeiros meses no campo. Talvez o nosso seja apenas um modelo de planejamento diferente. No entanto, embora as listas internacionais certamente tenham sido usadas para a tomada de decisões na preparação e planejamento dos objetivos missionários iniciais, não há evidências de que as listas estejam sendo amplamente usadas pelos missionários latino-americanos nas estratégias pós-chegada empregadas.

Listas e harmonização

Normalmente começamos comparando as listas nacionais de povos com as listas internacionais. Elas apresentam discrepâncias que, em princípio, distanciam o diálogo entre as listas. Porém, após uma avaliação cuidadosa de ambas, normalmente conseguimos chegar a um relacionamento harmonioso. O Harvest Information Standards (HIS)[3] [Sistema de Padrões da Colheita] tem sido uma das ferramentas utilizadas para ajudar a harmonizar os dados das listas. Harmonizar não é transformar duas (ou mais) listas em uma – várias listas são interessantes e úteis. Por apresentarem visões diferentes, todas são válidas. No entanto, sempre precisamos ter pelo menos um atributo em cada lista que permita o diálogo entre elas. Podemos conseguir isso com os códigos HIS.

Listas e micro dados

Depois de alcançar uma harmonização inicial, adicionam-se dados diferenciados. É possível, por exemplo, examinar a localização das torres de celular e entender qual impacto elas estão exercendo nas pessoas em regiões remotas (florestas, rios, montanhas etc.). A ideia aqui é apenas indicar que quaisquer tipos de dados podem estar relacionados. No entanto, a principal preocupação são os dados das atividades missionárias das organizações locais. Esses dados são o que chamamos de microdados. Vale ressaltar que se trata de uma fonte significativa dos melhores dados.

O que aprendemos é que quanto mais profundos são os microdados, maior o nível de preocupação com a segurança. Isso tem relação direta com as parcerias. Quanto mais profundos os dados, menos organizações estão dispostas a compartilhá-los ou associá-los. Por isso, temos investido mais em macro dados nas parcerias e mais em microdados dentro de pequenas organizações, fomentando uma “cultura de dados”[4]. Além disso, vemos que, quando a organização local aprende a trabalhar como os microdados, aumenta o entendimento do que pode ser compartilhado ou não como dados macros (listas).

Quando muitas listas se transformam em ação (conjunto de dados)

Agora, juntando os dados macros, os microdados e outros dados diferenciados, temos um conjunto de dados útil. Olhamos através das lentes do conjunto de dados diretamente para nossos desafios e objetivos, escolhendo quais informações nos apoiam melhor.

Cada desafio requer extratos diferentes da mesma informação (conjunto de dados). São, então, os usuários avançados (os que conhecem melhor os ministérios) que definem como usar as informações. Os usuários avançados não são apenas os líderes de organizações, incluem também as equipes no campo. A coleta de dados não pode se concentrar apenas nas pessoas de fácil acesso; como líderes, precisamos ir mais longe.

Em nosso entendimento, são os usuários avançados que auxiliam os ministérios de mobilização sobre que informações devem ser utilizadas. Como já mencionado, para cada tipo de mobilização, há diferentes partes do conjunto de dados que podem ajudar.

As listas internacionais seguiram definições mais direcionadas por etnia e língua, e isso tem sido útil. Na verdade, é o modelo principal que também usamos. No entanto, recentemente temos experimentado diferentes visualizações dos dados (Dataviz[5]). Isso permite observar o campo não apenas por etnia e língua, mas também sob outras variáveis que podem melhor atender aos diferentes públicos das organizações em suas diferentes atividades (ou seja, ministérios).

Um exemplo disso é a substituição dos polígonos (que representam uma área geral da localização no mapa – aquelas bolhas nos mapas) por pontos (algo mais específico) na geografia. Há testes em andamento com as línguas em uso e os diferentes domínios. Às vezes, olhamos para povos e examinamos a relação dos clãs dentro do povo, ou até fazemos correlações com itens externos, como a localização das torres de celular e a presença e movimentação de povos nômades.

Microdados e segurança

Todos fornecem ideias e sugestões sobre como entender, usar e representar o conjunto de dados. Com certeza, são produzidos novos dados potencialmente úteis em uma variedade de cenários. No entanto, é importante, quando coletamos novos dados de pessoas/povos que estão em campo, que eles sejam tratados com cuidado, observando critérios de segurança, a saber:

  1. O que pertence apenas à organização e deve permanecer apenas dentro da organização;
  2. O que pode ser compartilhado (muito pode ser compartilhado, e é necessário criar protocolos ativos para promover o compartilhamento de dados com parceiros – dados abertos[6]);

Em relação ao que pode ser compartilhado, é preciso fomentar a criação de processos claros e recorrentes de envio de dados à igreja global (listas de povos e outros conjuntos de dados).

Atualizando as listas

Seguindo o fluxo, após os dados serem catalogados com o devido cuidado, as listas em colaboração com a igreja global podem ser atualizadas. No caso de listas nacionais, os diálogos de atualização são como trabalhos de casa; não é fácil, mas é possível, é só uma questão de tempo. No caso das listas internacionais, os diálogos para atualização ainda não são muito claros. Precisamos trabalhar mais nesse ponto.

Duas boas experiências

Uma organização internacional que agrega valor ao pesquisador local é Ethnologue. Seu programa de colaboração de dados[7] fornece um instrumento que permite:

  • Inserção de dados (compartilhamento);
  • Visualização de dados de outros colaboradores;
  • Comprovação do relacionamento entre a organização e o missionário pesquisador nacional.

A segunda é a plataforma Etnopedia[8], que agrega valor à organização local. Ela:

  • Promove a colaboração;
  • Permite que se verifique a origem dos dados;
  • Fornece uma visão temporal das mudanças e os vários códigos de relação entre diferentes listas.

O que aprendemos e sugerimos

  1. Processos claros que valorizem o missionário pesquisador.
  2. Incentivar e ajudar cada organização a ter pelo menos uma pessoa trabalhando com dados.
  3. Promover processos em cada organização sobre dados:

a) dados internos;

b) dados de parcerias;

c) dados globais.

Em suma, usamos diferentes técnicas, estratégias e modelos para tentar cumprir dois grandes objetivos.

  1. Ajudar a igreja a aproveitar ao máximo os dados para o engajamento da missão de Deus.
  2. Trazer os PNA e PNE para uma visão mais ampla dentro de nossas estratégias.

Oramos com gratidão a Deus pelos servos que ele levantou até aqui na América Latina. Que ele capacite cada vez mais aqueles que estão trabalhando hoje e traga mais missionários de dados ao ministério.

 

O texto foi inicialmente escrito em inglês para a publicação Mission Frontiers (Setembro-Outubro de 2021). O Martureo recebeu autorização para republicar o texto.

Sobre o autor
Rodrigo Tinoco é um tecnólogo entusiasta da mordomia do conhecimento. Missionário enviado pela IBCT para atuar na Data4Mission (que fundou e dirige), também é Coordenador de Iniciativas na FCBHFVPO. Bacharel em Gestão da Tecnologia da Informação, especialista em Gestão da Informação, mestrando em Missiologia (Amide), ele é casado com Sarah Tinoco e tem 4 filhos. Trabalhou por 10 anos nos USA e na China e hoje mora em Brasília-DF. rodrigotinocobr@gmail.com

 

[1] PNA-PNE: https://amide.org.br/blog/quem-sao-os-povos-nao-alcancados/

[2] Povos ocultos foi o termo usado inicialmente no congresso de Lausanne. Ele foi, posteriormente, substituído por PNA.

[3] https://hisregistries.org

[4] Cultura de dados: https://administradores.com.br/artigos/o-que-é-a-cultura-de-dados-e-quais-os-resultados-obtidos

[5] https://www.data4mission.com/post/dataviz1

[6] https://pt.wikipedia.org/wiki/Dados_abertos

[7] https://www.ethnologue.com/contributor-program

[8] https://en.etnopedia.org

Compartilhe!
0
    0
    Seu carrinho
    Seu carrinho está vazioVoltar para as compras