[mk_page_title_box page_title=”Centro de Reflexão Missiológica Martureo” page_subtitle=”por Marcos Amado” section_height=”100″ bg_type=”color” font_size=”30″ title_letter_spacing=”1″ font_color=”#303030″ font_weight=”500″ underline=”false” padding=”12″ sub_font_size=”18″ sub_font_color=”#5b5b5b” sub_font_weight=”300″][mk_button corner_style=”rounded” size=”large” icon=”mk-moon-download” icon_anim=”side” url=”https://www.martureo.com.br/wp-content/uploads/2016/03/Texto-introdutório-pesquisa-Martureo_versão-final_MA.pdf” align=”center” margin_top=”30″ margin_bottom=”30″ bg_color=”#00c6c9″]Faça o download do artigo. [/mk_button][mk_padding_divider size=”50″]

A pesquisa “O que você pensa sobre o Islã e os muçulmanos” foi desenvolvida pelo Dr. Martin Accad[1] e já foi aplicada em diversos contextos acadêmicos com o objetivo de mapear qual a visão de grupos de cristãos em relação aos muçulmanos.

É importante ter em mente que o propósito da pesquisa foi aferir a nossa visão do Islã e nossa atitude em relação aos muçulmanos. Segundo Accad, “a visão de uma pessoa sobre o Islã afetará sua atitude em relação aos muçulmanos. Sua atitude, por sua vez, influenciará sua abordagem à interação entre cristãos e muçulmanos, e essa abordagem afetará o resultado final de sua presença como uma testemunha entre muçulmanos.”

No Brasil, a pesquisa foi uma iniciativa do Centro de Reflexão Missiológica Martureo, com a participação do departamento de pesquisas de Sepal e o apoio de diversas organizações evangélicas.

Inicialmente é fundamental entender o perfil das 423 pessoas que responderam a pesquisa para que se possa analisar as suas repostas à luz dessa informação.

Os homens são 60% do grupo. A grande maioria (86%) tem menos de 55 anos, e os jovens entre 18 a 35 anos representam 39% de todo o grupo.

O nível de escolaridade do grupo é alta, sendo que 287 pessoas (68%) possuem ensino superior completo, entre elas 97 (23%) já concluíram pelo menos uma pós-graduação e 45 (10,6%) exibem o título de mestre ou doutor. Isso nos mostra que, em sua grande maioria, o grupo teve oportunidade de acesso aos estudos e persistiu na sua formação acadêmica.

Há uma representação massiva de líderes e membros de igrejas históricas[2], especialmente das denominações batista e presbiteriana. Apenas 14% do grupo declara pertencer a uma igreja pentecostal[3]. Isso pode ser reflexo dos meios de comunicação utilizados para a divulgação da pesquisa.

Vale ressaltar que 78% do grupo declara nunca ter feito um curso sobre o Islã, apesar de a metade ocupar posição de liderança, ou seja, são influenciadores em seus respectivos ministérios. Não podemos desconsiderar, entretanto, a possibilidade de o grupo ter adquirido conhecimento sobre o tema por outros meios, que não um curso específico sobre islamismo.

Partindo para a análise das respostas, é importante mencionar que o que veremos a seguir é uma análise, com algumas inferências, dos dados apresentados na pesquisa, e não representa, necessariamente, a opinião do ‘Centro de Reflexão Missiológica Martureo’ nem das organizações apoiadoras[4].

Vamos dividir esse exame em: 1) visão sobre as religiões; 2) conhecimento sobre o Islã, Maomé, Alcorão e os mulçumanos praticantes e 3) a interação com muçulmanos.

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Visão sobre as religiões

A maioria acredita que o Cristianismo é a única religião que é verdadeiramente de Deus. Em seguida está o grupo que diz que Deus é a única Verdade final ou derradeira. Esses dois grupos representam 73% de todas as respostas e, sem dúvida, fundamentam a sua interação com os mulçumanos nesta visão, como podemos ver nas respostas seguintes.

De toda forma, deve-se mencionar que aproximadamente 25% do grupo acredita que as religiões são uma parte essencial da necessidade psicológica e sociológica do homem. Admitem que, embora Deus seja a Verdade absoluta, não há um único sistema religioso que seja infalível ou completamente satisfatório.

 Visão sobre o Islã

É importante relembrar aqui a reflexão do professor Martin Accad de que, a visão de uma pessoa sobre o Islã afetará sua atitude em relação aos muçulmanos.”, e isso é perceptível ao longo da análise.

Nas respostas aparece um equilíbrio entre os que creem que o Islamismo é um fenômeno sociopolítico bem sucedido devido ao forte elemento religioso-ideológico reaproveitado da tradição judaico-cristã e os que creem que o Islamismo é um fenômeno humano cuja compreensão de Deus é equivocada.

Porém, quando comparamos as respostas de quem já fez um curso sobre o Islã e quem não fez, encontramos discrepâncias significativas em seu entendimento sobre o tema. O mesmo ocorre quando analisamos as respostas dos representantes das igrejas históricas e pentecostais.

Um ponto essencial a mencionar é que apenas 10% do grupo crê que o Islamismo é um esquema desenvolvido e realizado pelo diabo.

Por outro lado, 7,6% acreditam que o Islamismo é uma religião originada de Deus, mas tal como todas as religiões, submeteu-se a muitas influências humanas.

Sobre Maomé

51,7% acreditam que ele foi um carismático líder profético e religioso que acreditava genuinamente que havia recebido um chamado profético divino para o seu povo. Esse percentual é menos acentuado entre os pentecostais, mas é também expressivo, atingindo quase 44%.

Pode-se dizer que esse grupo, aparentemente, não declara ter uma visão inicial explicitamente negativa sobre Maomé.

Para 23.3% Maomé foi possuído por demônios, um anticristo cuja missão era enganar as pessoas.

Para 7,1% do grupo Maomé foi, até certo ponto, alguém que recebeu um chamado divino para ser o Profeta de Deus entre os árabes.

Sobre o Alcorão

42,8% responderam que o Alcorão foi uma tentativa genuína de Maomé de apresentar aquilo que ele acreditava ser os elementos essenciais das escrituras judaico-cristãs no idioma árabe. Essa opinião é compartilhada igualmente por todos independente do grau de instrução, se fez ou não algum curso sobre o Islã, e se pertence ao grupo das igrejas históricas ou pentecostais.

Podemos, então, presumir que esse grupo acredita que Maomé reconhecia a importância das escrituras judaico-cristãs.

O segundo grupo mais expressivo (32,5%), por outro lado, crê que o Alcorão foi um feito literário do próprio Maomé ou dos seus discípulos com o objetivo de impressionar uma sociedade que era fortemente atraída por literatura poética.

De todo o grupo 17,5% acreditam que o Alcorão é um plágio da Bíblia e que contém muitos erros e imperfeições. Aqui há novamente uma desarmonia entre o entendimento dos que fizeram algum curso sobre o Islã e dos que não fizeram. O percentual de respostas no primeiro grupo é 12%, no segundo grupo é de 19%. O maior índice aparece entre os pentecostais (21%).  

Sobre os muçulmanos praticantes

A grande maioria (62,7%) acredita que os mulçumanos praticantes estão basicamente preocupados em agradar a Deus, mas carecem da habilidade de desfrutar de um relacionamento pessoal com ele através de Cristo. Os pentecostais com essa opinião chegam a quase 70%.

É essencial refletir se a base para a afirmação de que os muçulmanos estão basicamente preocupados em agradar a Deus é o entendimento de que Deus e Alá são a mesma pessoa. É possível que haja outros entendimentos que, de certa forma, também influenciaram esta afirmação.

Sobre a salvação dos muçulmanos, há quase unanimidade de que essa salvação só acontece a partir do conhecimento de Cristo.

Mais de 40% do grupo ainda acrescenta que os muçulmanos que buscam genuinamente podem vir a conhecer a Cristo mesmo com base no Alcorão.

Não podemos concluir, mas talvez esse grupo tenha como base para essa afirmação um ou mesmo os três elementos a seguir: 1) a confiança na soberania de Deus, 2) o conhecimento de que Jesus é mencionado diversas vezes no Alcorão e 3) o contato com testemunhos de muçulmanos a esse respeito.

Esse grupo pode também estar entre os que responderam que o Alcorão foi uma tentativa genuína de Maomé de apresentar aquilo que ele acreditava ser os elementos essenciais das escrituras judaico-cristãs no idioma árabe.

Não deixa de ser interessante observar, no entanto, que no geral há uma parcela de 7% que crê que os muçulmanos, tal como todas as outras pessoas, serão salvos pela ilimitada benevolência de Deus. Entre os representantes das igrejas históricas, 8% expressam tal opinião.

A interação com muçulmanos

 O propósito

Pode-se dizer que na análise geral, 90% do grupo têm como propósito apresentar as bases do fé cristã na interação com muçulmanos mesmo que utilizando-se de métodos distintos.

Mais da metade de todo o grupo (54,4%) intenciona poder testemunhar sobre os elementos singulares que Cristo traz para enriquecer o relacionamento dos seres humanos com Deus.

Um grupo também expressivo (36%) têm como objetivo refutar a validade do Islã, mostrar a falsidade e o engano dessa doutrina e apresentar o Evangelho para salvar da perdição tantos quantos for possível.

Apenas 34 pessoas (8%) têm como propósito encorajar a compreensão e tolerância mútua nos aspectos sociais e religiosos entre as comunidades cristã e mulçumana.

Vale aqui evidenciar que a maior diferença de opinião sobre o propósito da interação com muçulmanos está entre os históricos e os pentecostais. Mais de 60% dos históricos têm como propósito apresentar os elementos singulares que Cristo traz para enriquecer o relacionamento dos seres humanos com Deus. Entre os pentecostais, 39% declaram ter esse propósito.

Entre os pentecostais maior valor é dado para apresentar a falsidade do Islamismo e evangelizar os muçulmanos (47%).

Quando perguntados sobre o que sua interação com muçulmanos deve gerar, 40% de todo o grupo creem que essa interação deve levar a um impacto profundo em sociedades muçulmanas sem criar inimizade entre membros da comunidade, e evitar a “extração” daqueles que venham a aceitar a Cristo.

A maior discrepância de opinião sobre esse tema está entre os que fizeram algum curso sobre o Islã e os que não fizeram. Do primeiro grupo, 61% concordam com a intenção acima. Do segundo grupo, apenas 34,3%.

Também é expressivo o percentual de pessoas (27,5%) que esperam que essa interação leve os muçulmanos a se converterem ao cristianismo por meio do convencimento sobre a verdade prevalente do Cristianismo sobre todas as outras religiões. No entanto, o que mais chama a atenção é que ninguém do grupo dos que fizeram algum curso sobre o Islã declarou que sua interação com muçulmanos deve levar a esse fim.

Vale realçar que 22% do grupo creem que a sua interação com muçulmanos deve levar a uma transformação mútua de percepções e relacionamentos.

Tomando como base novamente a análise geral onde nota-se uma grande expectativa de aceitação da fé cristã, é relevante perguntar como se seguirá o relacionamento com o muçulmano se essa expectativa for frustrada mesmo depois de alguns anos de interação. Vale também refletir sobre como lidar com o fato de que o mulçumano também terá o propósito de testemunhar da fé que confessa e que acredita ser a verdadeira.

A forma e os métodos

Há consenso no grupo (60%) de que o melhor método para interagir com os muçulmanos é uso do Alcorão, da Bíblia e de outros elementos de ambas as tradições como um fundamento para discutir questões teológicas, doutrinárias, sociais e culturais.

Também há concordância (52%) de que, para interagir eficazmente com muçulmanos é necessário adquirir um amplo conhecimento das respostas às perguntas e aos desafios islâmicos.

Considerando que 78% das pessoas que responderam a pesquisa nunca fizeram um curso sobre o Islã, podemos inferir que há necessidade de preparo para uma interação eficaz com os muçulmanos onde se conheça mais do Alcorão, a doutrina islâmica, suas tradições e desafios.

Temos também que refletir sobre fato de que 141 pessoas de todo o grupo (33.5%) afirmam que o melhor método para interagir com os muçulmanos é dar ênfase apenas em denominadores comuns e evitar a discussão de questões que causem divisão.

Vale indagar como tornar isso factível quando o grande propósito apresentado pelo grupo é de compartilhar a fé cristã, e pelo menos 36% têm como objetivo refutar a validade do Islã.

Essa atitude pode estagnar o relacionamento com muçulmanos em um nível superficial, considerando que poderá ser difícil estabelecer vínculos sem abordar temas sobre os quais não há concordância.

Como última observação, é importante notar que a grande maioria dos que responderam a pesquisa, quando perguntados sobre o conflito árabe-israelense, não está de acordo com o tratamento que o Estado de Israel tem dado ao povo palestino[5].

Conclusão

Para concluir a análise dos resultados da pesquisa vale à pena relembrar o que já foi dito acima: “a visão de uma pessoa sobre o Islã afetará sua atitude em relação aos muçulmanos. Sua atitude, por sua vez, influenciará sua abordagem à interação entre cristãos e muçulmanos, e essa abordagem afetará o resultado final de sua presença como uma testemunha entre muçulmanos.”[6]

A partir da análise feita, é fundamental, então, entender que tipo de abordagem o grupo pesquisado tende a usar em sua interação com muçulmanos.

Accad apresenta 5 tipos de abordagens de interação: apologética, existencial, kerigmática, polemista e sincretista[7].

Ao sumarizarmos os pontos principais sobre a visão do grupo pesquisado em relação ao Islã, aos muçulmanos e sua interação com eles, vemos uma tendência clara para a abordagem apologética.

Neste tipo de interação, os cristãos vão se envolver com os muçulmanos unicamente com o propósito de evangelismo, buscando demonstrar a eles a verdade do Cristianismo e visando a refutar a validade do islã. Os métodos primários usados são debates públicos que fazem uso intenso de argumentos apologéticos, assim como a confiança na apologética e na polêmica em tentativas particulares de converter muçulmanos ao Cristianismo. Embora alguns muçulmanos se convençam a se tornar cristãos debaixo da influência de pesadas demonstrações apologéticas da verdade do Cristianismo, deve-se esperar a argumentação circular, devido ao longo histórico de argumentos e contra-argumentos aprendidos por ambos os lados. Neste nível, tanto cristãos quanto muçulmanos vão frequentemente estudar e decorar respostas padronizadas a perguntas ancestrais.

Apesar de haver espaço para a maioria dessas cinco interações em nosso contato com os muçulmanos, Accad crê que a abordagem kerigmática seja aquela com maior potencial para promover a paz e criar condições para um sincero e aberto intercâmbio de ideias, dando aos cristãos a oportunidade de apresentar o Evangelho de maneira clara.

Accad diz que, para os partidários da abordagem kerigmática, a religião é uma parte natural da existência humana, mas Deus está “acima de qualquer sistema religioso”. Maomé deve ser visto como alguém que, mesmo equivocado, genuinamente acreditou ter sido chamado por Deus e que passou por diferentes estágios como ‘profeta’ e estadista. O Alcorão deve ser entendido como uma tentativa sincera de Maomé de comunicar aquilo que ele acreditava ser a mensagem que já havia sido transmitida por Deus aos judeus e cristãos[8]. E

“Muito embora os muçulmanos tenham como sua principal preocupação agradar a Deus, eles carecem da habilidade desse relacionamento profundo e pessoal com Deus, algo que, de acordo com os Evangelhos, só é possível para aqueles que respondem ao convite de Cristo para se aproximarem de Deus como Pai, por meio de uma filiação fraternal com ele mesmo.”[9]

Consequentemente, se os cristãos derem ouvidos à sugestão de Accad, tudo o que for dito aos muçulmanos deve ser falado com sabedoria e humildade, compreendendo que os muçulmanos em geral, mas também os acadêmicos, obviamente olham para a sua religião através dos olhos da fé. Ainda que, às vezes, haja espaço para se empregar a abordagem apologética, não devemos nos esquecer das palavras de precaução do Apóstolo Pedro: “façam-no com gentileza e respeito”.[10]

Notas

[1] O Dr. Martin Accad é diretor do Instituto de Estudos do Oriente Médio, associado ao Seminário Teológico Árabe Batista de Beirute no Líbano, possui um Ph.D. em estudos islâmicos pela Universidade de Oxford e é professor associado de islamismo no Fuller Theological Seminary (Pasadena, Califórnia). É membro fundador do Centre on Religion and Global Affairs sediado em Londres, Reino Unido.

[2] Utilizou-se a nomenclatura que o IBGE usa: os evangélicos de missão são os não católicos de origem reformada, e reúnem os “protestantes de missão” e os “protestantes de imigração”. Segundo o Censo 2010 do IBGE eles são os pertencentes as denominações de missão: Luterana, Presbiteriana, Metodista, Batista, Congregacional, Adventista e outras evangélicas de missão.

[3] Para o IBGE, a definição de igrejas pentecostais abarca o que nós entendemos como neo-pentecostais também. Assim, entre eles estão as denominações: Assembléia de Deus, Congregação Cristã, O Brasil para Cristo, Evangelho Quadrangular, Universal do Reino de Deus, Casa de Benção, Deus é Amor, Maranata, Nova Vida, Comunidade Evangélica, Evangélica Renovada não determinada e outras evangélicas de origem pentecostal.

[4] Veja também análise de outros aspectos dentro do próprio corpo da pesquisa.

[5] Esta pergunta não fazia parte da pesquisa original criada pelo Dr. Martin Accad.

[6] https://www.martureo.com.br/atitudes-cristas-em-relacao-ao-isla-e-aos-muculmanos-uma-abordagem-kerigmatica/

[7] Veja a explicação completa sobre essas abordagens, assim como o questionário e a forma de analisar o resultado final no artigo encontrado em https://www.martureo.com.br/atitudes-cristas-em-relacao-ao-isla-e-aos-muculmanos-uma-abordagem-kerigmatica/

[8] Ibid.

[9] Ibid.

[10] 1 Pedro 3.15.

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