O evangelho e a Geração Z

Ministrando à “a última geração do mundo”

Steve Sang-Cheol Moon

Nossa perspectiva das missões globais pode ser tanto horizontal como vertical. A dimensão horizontal enxerga o mundo pelo ângulo de suas fronteiras geográficas, étnicas e socioculturais. [Acesse aqui uma série de artigos sobre a abordagem de ‘Grupos Culturais Homogêneos’]. A dimensão vertical, por sua vez, entende o mundo de acordo com as diferentes gerações. Nesse contexto, o entendimento tradicional das missões mundiais é centrado demasiadamente na perspectiva horizontal.

A compreensão das novas gerações é uma parte essencial da verdadeira mente missionária neste mundo em rápida transformação. A Geração Z é o grupo geracional mais jovem hoje. As pessoas mais velhas desse grupo já concluíram sua educação formal e atuam nos diversos setores da sociedade. Mas quem são estes que pertencem à chamada Geração Z? Quais são suas características? E, mais importante, como eles podem ser alcançados pelo evangelho?

Quem são eles?

Definir grupos sociais com base no ano de nascimento ajuda a traçar as características distintivas de diferentes gerações. Embora o padrão pelo qual as gerações são separadas nunca tenha sido claramente estabelecido de acordo com a pesquisa empírica em geral, os casos nos Estados Unidos são mais claramente definidos e verificados do que outros.

Segundo a pesquisa Religious Landscape Study [Estudo do Cenário Religioso] de 2014, realizada pelo Pew Research Center, os Estados Unidos dividem as gerações em:

  • Geração Grandiosa – nascidos antes de 1928;
  • Geração Silenciosa – nascidos entre 1928 e 1945;
  • Baby Boomers – nascidos entre 1946 e 1964;
  • Geração X – nascidos entre 1965 e 1980;
  • Millennials(também chamados de Geração Y) mais velhos e mais jovens – nascidos entre 1981 e 1996;[1]
  • Geração Z, que sucede a Geração Y – nascidos entre 1995 e 2010 (aproximadamente).[2]

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), desde 2019, a Geração Z compreende mais de 30% da população mundial, alcançando um total de 2 bilhões de pessoas. Mais da metade da população mundial pertence à Geração Y ou à Geração Z, superando de longe as proporções da Geração X e dos Baby Boomers, com menos de 20% cada. Isso significa que as novas gerações constituem a maioria das gerações no mundo.

As pessoas da Geração Z estão se tornando uma nova força de trabalho na sociedade. Em muitos países, elas estão envolvidas em importantes processos de decisão em seus lares e locais de trabalho. Na Coreia do Sul, elas correspondem a 21,7% dos consumidores, chegando a 43,9% se somados aos Millennials.[3] Nos EUA, prevê-se que a Geração Z corresponderá a 40% de todos os consumidores.[4] Além disso, nos últimos anos, as menções à Geração Z têm sido cada vez mais frequentes. Uma análise de big data mostrou um aumento de 40% nos comentários sobre a Geração Z na Coreia do Sul no quarto trimestre de 2017.[5] A Geração Z também prefere a mídia multissensorial em lugar da mídia tradicional.[6] Na Coreia do Sul, por exemplo, a proporção de usuários de vídeos sob demanda (VOD, Video on Demand) é mais alta entre a Geração Z. A participação social e a influência da Geração Z continuam crescendo em todo o mundo. Observa-se que, mais cedo do que o esperado, a Geração Z formará a próxima safra de líderes na força de trabalho.[7]

A Geração Z é provavelmente a última geração categorizável do mundo.[8] Depois dela, será impossível identificar uma geração que possua características homogêneas por conta das rápidas mudanças socioculturais, que contribuem para a heterogeneização dos grupos sociais.

Quais são suas características?

Há semelhanças e diferenças entre as Gerações Y e Z. São muitas as características comuns, pois não há grande diferença de idade entre os dois grupos. No entanto, por terem sido criados por pais de gerações e épocas distintas, eles também apresentam diferenças significativas em seu modo de vida e em suas características culturais.

A exposição precoce da Geração Z à tecnologia moderna moldou sua visão de mundo e seu estilo de vida característicos. A maioria cresceu com smartphones e mídias sociais, o que os torna muito mais experientes do ponto de vista tecnológico e, geralmente, mais aptos às multitarefas do que as gerações anteriores. Em uma pesquisa conjunta do IBM Institute for Business Value [Instituto de Valor Empresarial da IBM] com a National Retail Federation [Federação Nacional de Varejo], 66% dos entrevistados da Geração Z afirmaram que costumavam usar dois ou mais dispositivos simultaneamente.[9] As pessoas da Geração Z, os chamados Zoomers, nasceram na mesma época do surgimento de algumas de suas marcas favoritas – Google (1998), iTunes (2003), Twitter (2006), Uber (2009), Instagram (2010) –, e cresceram como nativos digitais.[10]

A maioria cresceu com smartphones e mídias sociais, o que os torna muito mais experientes do ponto de vista tecnológico.

Por outro lado, os Zoomers tendem a ser mais autodidatas, são mais independentes do que os Millennials, porém mais dependentes se comparados às gerações anteriores. São capazes, portanto, de ser, ao mesmo tempo, independentes e cooperativos. Isso ocorre, em parte, porque a Geração Z, de modo geral, foi criada pela Geração X: pais que evitaram a “paternidade-helicóptero”, segundo James Emery White.[11] Muitas pessoas da Geração Z cresceram em famílias cujos pais trabalhavam fora e que, em comparação às gerações anteriores, dispunham de menos tempo para cuidar de seus filhos, adotando uma postura menos protetora do que os pais dos Millennials.

Outro fator importante relacionado às características da Geração Z é sua experiência com crises financeiras de âmbito nacional durante a infância e a adolescência. Na Coreia, a maioria das famílias da Geração Z sofreu com duas graves crises financeiras: primeiro, a crise financeira asiática que teve início em 1997; e, em segundo lugar, a Grande Recessão, que começou em 2007 e teve impacto global. Essa experiência pode ser uma das razões pelas quais muitas pessoas da Geração Z são tão ansiosas e deprimidas. Elas também estão crescendo em um ritmo mais rápido do que o das gerações anteriores. Os mecanismos de enfrentamento da Geração Z produziram seu forte senso de independência e espírito empreendedor.[12]

Os valores e um compromisso autêntico a eles associado são importantes para a Geração Z. Eles gostam de trabalhar com e para pessoas e organizações que partilhem dos mesmos valores. O cuidado com o meio ambiente e o compromisso ético são questões centrais. Portanto, para sermos ouvidos pela Geração Z, precisamos demonstrar compromisso com seus valores.

Para a Geração Z, o cuidado com o meio ambiente é central: para ser ouvido, interlocutor precisa demonstrar compromisso com seus valores.

Como alcançá-los com o evangelho?

A Geração Z é a primeira geração pós-cristã, pois cresceu em um contexto pós-cristão, especialmente em muitos dos países ocidentais. Não parece estar se tornando mais observadora da religião à medida que envelhece, portanto, o padrão geral (pelo menos nos Estados Unidos) é que quanto mais jovem a geração, mais pós-cristã ela é.[13] Como podemos, então, apresentar o evangelho à Geração Z?

Para alcançar esta geração pós-cristã, é necessária uma exegese da cosmovisão. Uma das características fundamentais da visão de mundo da Geração Z é o cientificismo: acreditar que o conhecimento não pode ser adequado a menos que seja provado cientificamente. O cientificismo não é defendido, mas simplesmente presumido entre a Geração Z.[14] Essa orientação científica não nega o sobrenatural, o que, segundo White, permite integrar a ciência e o sobrenatural como uma abertura apologética para a Geração Z.[15] A Geração Z precisa de uma visão de mundo rica e madura, por meio da qual conheçam a razão da fé e da esperança cristã. A estrutura de plausibilidade da Geração Z é caracterizada por seu compromisso com a diversidade e sua abertura para múltiplas interpretações. Por isso, anunciar à Geração Z a verdade da singularidade de Cristo requer muita sensibilidade para distinguir entre normas ontológicas e considerações epistemológicas.

O relacionamento genuíno é importante em um evangelismo de cosmovisão. Envolver a Geração Z em uma conversa sobre Cristo requer a construção de um relacionamento autêntico, fundamentado na confiança e na empatia, pois essa geração anseia por relacionamentos reais. A Geração Z precisa aprender a cosmovisão bíblica praticando-a, tendo como modelo alguém que ame essa cosmovisão. A Geração Z também é extremamente informada e orientada visualmente; eles consomem conhecimento sobre o mundo através do YouTube, da Netflix e de outras mídias que consideram visualmente interessantes. Se levarmos em conta o estilo de aprendizagem digital da Geração Z baseado no experiencialismo multissensorial, o evangelismo exigirá novos meios e estilos de comunicação, bem como novos conteúdos.[16]

Para maximizar seu aprendizado, precisamos captar as nuances dos alunos da Geração Z e lhes proporcionar uma experiência adequada e eficaz. A Geração Z deve estar no processo de aprendizagem na posição de participante, não apenas de observador. Finalmente, o cenário ambiental é importante. O espaço de aprendizagem deve ser silencioso, limpo, organizado e confortável.[17] O integrante da Geração Z precisa ser capaz de desfrutar da liberdade de se movimentar, comer e beber, enquanto ouve.

E agora?

Precisamos empreender esforços conscientes para alcançar a Geração Z com o evangelho de forma culturalmente relevante. Para esse fim, devemos nos lembrar de três pontos concretos.

  1. Investir nosso tempo e energia para conhecer melhor a Geração Z. Devemos bancar o pesquisador para conhecê-los em primeira mão, colocando em prática a observação participativa e as entrevistas etnográficas. Precisamos de relatos objetivos antes de fazer qualquer juízo de valor, com um senso de equilíbrio entre as visões internas e externas.
  2. Convidar a Geração Z para os nossos grupos e equipes a fim de nos beneficiarmos de sua competência e experiência. Devemos valorizar suas perguntas e sugestões. Ocasionalmente, são necessárias sessões de mentoria reversa para recebermos sua sabedoria e percepção. Além disso, será estratégico contratar deliberadamente a Geração Z para fazer parte de nossa equipe. Eles têm muito potencial para ser nossos colegas e líderes competentes no futuro.
  3. Contextualizar de forma crítica nossos programas, mensagens e ambientes, tornando-os relevantes para a Geração Z que está ao nosso redor. Devemos criar uma atmosfera de conforto, simpatia e cordialidade adaptada às suas preferências. Precisamos comunicar o que cremos, que são mensagens bíblicas eternas e importantes para tratar das “questões existenciais” que continuam sem resposta em seus corações.

“Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns. Faço tudo isso por causa do evangelho, para ser coparticipante dele.” (1Co 9.22-23, NVI).

Sobre o autor
Steve Sang-Cheol Moon é um missiólogo coreano, fundador e CEO do Instituto Charis de Estudos Interculturais. Ele também ministra Estudos Interculturais na Grace Mission University e em algumas outras universidades e seminários em diversas partes do mundo. É formado pela Trinity Evangelical Divinity School e tem um PhD em Estudos Interculturais (1998).

 

Esse artigo foi publicado originalmente em Análise Global de Lausanne, Março de 2021, Vol. 10, Ed. 2.

[1] Veja o artigo de Steve Steddom e Thomas Harvey, “The Millenials”, na edição de novembro de 2014 da Análise Global de Lausanne, https://lausanne.org/content/lga/2014-11/the-millennials.

[2] Existem várias definições da Geração Z com base em seu ano de nascimento. Alguns, como o relatório do Barna Group, definem o ano inicial como 1999, enquanto outros, incluindo James Emery White, o definem como começando por volta de 1995 e terminando por volta de 2010. Consulte Barna Group & Impact 360 Institute, Gen Z: The culture, beliefs and motivations shaping the next generation [Gen Z: Cultura, crenças e motivações moldando a próxima geração] (2018), 10; e James Emery White, Meet Generation Z: Understanding and reaching the new post-Christian World [Conheça a Geração Z: Entendendo e alcançando o novo mundo pós-cristão] (Grand Rapids: Baker Books, 2017), 38. As definições não são rígidas, e consideram os diferentes contextos históricos de diferentes países. Também podemos determinar quando o ano de nascimento dessa geração terminará somente após observarmos como as pessoas nascidas mais recentemente são caracteristicamente diferentes. Neste artigo, a Geração Z é definida como aqueles nascidos entre 1995 e 2010.

[3] Samjong KPMG, Samjong Insight, Vol. 66 (2019), 3, https://home.kpmg/content/dam/kpmg/kr/pdf/2019/kr-insight66-lifestyle-trends-20190430.pdf.

[4] Mark Beal, Decoding Gen Z: 101 Lessons Generation Z will teach corporate America, marketers & media [Decodificando a Geração Z: 101 lições que a Geração Z ensinará à América coorporativa, aos marketeiros e à mídia] (Nova Jersey: Mark Beal Media, LLC, 2018), 2.

[5] Geunjoo Lee & Sungkong Park, “Social big data ro bon Z sedae”, Card Business Brief (BC Card Digital Research Institute, 2018).

[6] Jihyung Shin, “Millenial sedae wa z sedae media iyong”, KISDI STAT Report Vol 19, No. 03 (15/ 02/2019).

[7] Richard Dool, How Generation Z wants to be led [Como a Geração Z deseja ser liderada] (América: Richard Dool, 2019), 141.

[8] James Emery White, Meet Generation Z: Understanding and reaching the new post-Christian World [Conheça a Geração Z: Entendendo e alcançando o novo mundo pós-cristão] (Grand Rapids: Baker Books, 2017), 38-39.

[9] IBM Institute for Business Value & National Retail Federation Uilmuihan z sedae (2017).

[10] Beal, “Decoding Gen Z” [“Decodificando a Geração Z”], 1.

[11] White, Meet Generation Z [Conheça a Geração Z], 51.

[12] Ibid., 40

[13] Pew Research Center, “2014 Religious Landscape Study” [Estudo do Panorama Religioso de 2014]; Barna Group & Impact 360 Institute, Gen Z; White, Meet Gen Z [Conheça a Geração Z], 49.

[14] Barna Group & Impact 360 Institute, Gen Z, 100.

[15] White, Meet Gen Z [Conheça a Geração Z], 143.

[16] Ibid., 118-119, 126.

[17] Ibid., 46-49.

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