Pregar o evangelho para quem se declara cristão?

Missão para cristãos nominais em geral não é incluída nos planos da igreja mundial

Fernanda Schimenes

Cerca de um terço da população mundial declara-se cristã, sendo que desses:

  • 50% são católicos;
  • 37% são protestantes;
  • 12% são ortodoxos;
  • 1% são de alguma outra tradição.[1]

No entanto, “muitos desapareceram de nossas igrejas, não estão participando da alegria de verdadeiramente conhecer e seguir a Cristo”, como alerta o “Parecer de Lausanne de Roma 2018 sobre Nominalismo Cristão”. O documento chama a atenção para o fato de que a “missão para cristãos nominais não é frequentemente incluída nos planos da igreja mundial e de seus líderes”.

Há consenso entre teólogos, missiólogos e líderes cristãos sobre os seguintes pontos, como mostra a série de 10 vídeos curtos (em inglês) sobre nominalismo produzida também pelo Movimento de Lausanne.

  1. O nominalismo é algo complexo de se definir;
  2. A fé nominal existe desde o Antigo Testamento;
  3. Está presente em todas as denominações cristãs (e em outras religiões), gerações, correntes teológicas e em todo o globo;
  4. Não é possível quantificar o número de cristãos nominais;
  5. Costuma ser mais presente onde o cristianismo é dominante ou majoritário;
  6. Contribui com a reputação negativa da igreja cristã.

Como definir nominalismo?

Amos Kimera, capelão-assistente na Universidade Cristã de Uganda, diz: “Se você se identifica como cristão, mas age de modo diferente do que professa ser, você é um nominal”. Olaf Edsinger, secretário-geral da Aliança Evangélica Sueca, completa: “É alguém que afirma ser cristão, mas não experimentou de fato o que é ter um relacionamento com Deus”.

Segundo o parecer de Lausanne, de um ponto de vista sociológico, o cristianismo nominal é descrito de forma negativa: não afiliados, não praticantes, não convertidos ou não compromissados. Como descreveríamos, então, um cristão? O Pacto de Lausanne se refere ao cristão como alguém com as seguintes características, valendo a ressalva de que o relacionamento entre a conversão a Cristo e as ordenanças (sacramentos) e participação na igreja continua em discussão mesmo entre nós evangélicos:

  1. Fé no Cristo histórico e bíblico como salvador e Senhor;
  2. Arrependimento perante e reconciliação com Deus;
  3. Compromisso com o discipulado ao seguir Cristo, pelo poder do Espírito Santo, negando a si próprio e carregando a cruz;
  4. Incorporação na comunidade de Cristo, na igreja local;
  5. Envolvimento no serviço de Cristo no mundo de forma responsável.

O nominalismo e a missão de Deus

Em primeiro lugar, devemos reconhecer, como igreja que se envolve na missão de Deus, que negligenciamos os cristãos nominais – aqueles que se declaram cristãos e nunca entenderam completamente ou aceitaram “as boas novas da graça de Deus” (At 20.24) – em nosso meio, na sociedade como um todo e em nossas próprias igrejas evangélicas. A seguir, estão algumas sugestões para a igreja mundial que constam do documento produzido em Roma no intuito de buscar e salvar os milhões que sumiram de nossas igrejas e os que, ainda que presentes, não experimentaram a salvação e a completude da vida em Cristo.

  • Orar pelos que são cristãos somente em nome para que venham à fé salvadora de Jesus Cristo.
  • Refletir de forma honesta sobre as razões de as pessoas se distanciaram das várias formas do cristianismo (católicos, ortodoxos, protestantes/evangélicos).
  • Promover mais pesquisas sobre a possível contribuição da teologia evangélica contemporânea para a prática da secularização e do nominalismo.
  • Priorizar o discipulado integral que traz todos os crentes à maturidade em Cristo.
  • Julgar menos e ouvir mais as histórias dos cristãos nominais, especialmente quando eles vêm de uma tradição eclesiástica diferente da nossa.
  • Proclamar o evangelho bíblico com clareza e ousadia, mas sempre atentos ao contexto, para que a mensagem de Cristo seja compreendida de forma correta.
  • Plantar novas igrejas e trabalhar pela renovação das igrejas existentes.
  • Fomentar movimentos de formação de discípulos que possam inspirar uma nova geração de líderes usados por Deus para acordar a fé cristã dormente.
  • Revisar o treinamento teológico, especialmente o da liderança.

Quer saber mais sobre o tema? Leia os seguintes textos:

Europa ocidental: cresce número de “não religiosos”

É cringe ser cristão e se engajar na missão de Deus?

 

[1] https://www.worldometers.info/world-population/

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